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Redes sociais, ansiedade e o vício em fazer scroll

Segundo um recente estudo da Dove, que tinha como objetivo analisar de que forma as redes sociais e os conteúdos tóxicos expostos nestas plataformas estão a impactar negativamente a saúde mental dos jovens, Portugal é dos países da União Europeia em que mais jovens, cerca de 86%, admitem estar viciados nas redes sociais. Além disso, a maioria diz começar a usar as redes sociais aos 13 anos e que prefere comunicar através destas, em vez de o fazer pessoalmente. Embora estas tenham vantagens, o seu uso excessivo pode ser definido como um vício comportamental, ou seja, “a pessoa altera as suas atividades diárias de modo a ficar conectada, comprometendo compromissos básicos do dia a dia, como o seu trabalho, estudos, vida social e alimentação”.

Hoje, dia 30 de junho, assinala-se o Dia Mundial das Redes Sociais e a LuxWoman esteve à conversa com a psicóloga Teresa Feijão para perceber os impactos destas plataformas, não só nos jovens, como na sociedade. 

Teresa Feijão, psicóloga

Teresa Feijão, psicóloga

Embora a utilização das Redes Sociais tenha várias vantagens, quais são os seus perigos?

O aparecimento da Internet e das redes sociais fez com que a forma como comunicamos se alterasse, tornando-a mais prática e mais rápida. A sua utilização tem muitas vantagens, como a facilidade de comunicação, criação de uma maior rede de contactos, maior projeção de negócios, aumento do conhecimento em várias áreas pela facilidade de pesquisa de informação e maior e mais rápida divulgação de notícias de atualidade. Contudo, o tempo passado nas redes sociais é considerado um problema quando afeta a vida e o estado emocional da pessoa, uma vez que tem consequências negativas se esse uso for descontrolado e/ou abusivo: isolamento social, sedentarismo, diminuição do rendimento escolar, redução da rentabilidade do tempo no trabalho, dificuldades nos relacionamentos interpessoais e, em casos mais graves, o surgir de sintomatologia ansiosa e/ou depressiva, sendo afetado o sono, o sistema digestivo e cardiovascular, a autoestima e a motivação.

A ansiedade associada às redes sociais prende-se, em grande parte, com…

A tendência crescente de comparação com “vidas perfeitas”, “imagens perfeitas”, e “corpos perfeitos”. As incessantes notícias negativas e comentários desagradáveis também podem criar ansiedade, pois o nosso cérebro é incapaz de digerir todas as informações recebidas diariamente.

De salientar que grande parte da geração atual se guia, com frequência, pelo número de “likes” nas fotografias e publicações, pelo número de amigos ou seguidores nas suas redes sociais (muitos deles apenas amigos virtuais, uma vez que nem pessoalmente se conhecem) e por uma maior partilha de informação pessoal nas suas páginas. O foco elevado nestas manifestações virtuais também afeta a autoestima e leva a uma preocupação excessiva com a aprovação de terceiros e a consequente ansiedade.

O que mais é afetado por esta dependência em se estar conectado?

Para além disso, este vício, esta dependência em estar conectado nas redes sociais, pode afetar os relacionamentos interpessoais em geral, mas, em particular, os afetivos. Os motivos são comuns: ciúmes, insegurança, insatisfação, afastamento, entre outros. Enquanto o casal passa grande parte do seu tempo individual a desfrutar da vida virtual, o seu relacionamento deixa de ser alimentado. Durante as refeições, momentos de lazer, antes de dormir e em tantas outras situações do dia a dia, vai deixando de existir diálogo. Desta forma, a distância entre o casal aumenta cada vez mais, podendo levar a ruturas irreversíveis.

Pode alguém ser viciado em fazer scroll? 

Existe uma razão científica que explica o porquê de termos sempre a necessidade de “fazer scroll”. O cérebro humano está instintivamente alerta a ameaças à sua segurança e bem-estar, de modo a preparar-nos para um eventual perigo. E, assim, estamos sempre à procura de mais e mais informações, nomeadamente através de um scroll frequente nas redes sociais. No entanto, há um limiar em que este scroll constante deixa de ser saudável e há que saber encontrar um equilíbrio.

Que sintomas estamos presentes quando usamos as redes em excesso?

O uso excessivo das redes sociais pode ser definido como um vício comportamental, ou seja, a pessoa altera as suas atividades diárias de modo a ficar conectada, comprometendo compromissos básicos do dia a dia, como o seu trabalho, estudos, vida social e alimentação.

Alguns dos sinais aparentes deste vício podem ser: falta de interesse em atividades fora da vida online; uso prolongado de computadores e smartphones; sensação de angústia sempre que a pessoa precisa ficar desconectada ou há falhas na Internet; sensação de que determinada experiência não está “completa” enquanto não for postada nas redes sociais; deixar outras tarefas importantes para passar mais tempo na Internet, com a consequente apresentação de sintomas de abstinência quando afastadas das redes.

Além da mudança de comportamento e dificuldades em tomar decisões, também é válido citar outros sintomas causados pelo vício nas redes sociais: ansiedade, como já referido; mal-estar; irritabilidade; angústia pela falta de Internet; síndrome de pânico (tremores, tontura, falta de ar, aumento do ritmo cardíaco, quadro semelhante à abstinência de um toxicodependente); comportamentos obsessivo-compulsivos; distúrbios alimentares; e isolamento e fobia social.

É importante mencionar ainda que a pessoa viciada nas redes sociais pode sofrer também com “sensações fantasmas”. Ou seja, sente ou ouve o telemóvel vibrar e/ou tocar quando, de facto, tal não acontece.

Muitas vezes, as pessoas não se apercebem o quão dependentes estão das redes sociais e só notam quando deixam frequentemente de cumprir compromissos por estarem conectadas à Internet.

Quais as faixas etárias mais afetadas por estes sintomas?

Os jovens adultos tendem a ser os mais afetados pelo vício em redes sociais. Há cada vez mais crianças e adolescentes com problemas de dependência de jogos online e tempo despendido nas redes sociais. A pandemia acabou com muitas atividades fora da escola e contribuiu para uma crescente tendência de isolamento que cada vez mais se mostra preocupante. Os pedidos de ajuda não param de aumentar nos serviços de psicologia e pedopsiquiatria dos hospitais.

Esta realidade está a ser muito impactante ao nível da socialização, o saber estar em sociedade, o saber ler o outro. Os jovens socializam através de um ecrã. Este treino de aptidões sociais que fazíamos quer em contexto escolar, quer nas atividades extracurriculares, o estar com alguém, está a perder-se.

Quando devem as crianças e adolescentes serem introduzidos às redes sociais?

Conforme as normas do Facebook, Instagram e YouTube, só pode criar um perfil quem tem mais de 13 anos. Mas algumas redes sociais usam tecnologias que podem nem ser adequadas para algumas idades, temas impróprios ou envolvem pessoas muito mais velhas do que crianças dessa idade. Como tal, nessa idade mínima e em cidades próximas, os pais deverão estar sempre em alerta relativamente ao tipo de conteúdo consumido pelos seus filhos, comunicações e suas partilhas nas respetivas contas.

O que podem fazer os pais?

O papel dos pais, ao gerir a utilização das redes sociais pelas crianças e adolescentes, é considerado fundamental. Os pais devem acompanhar o início da criação de contas e a publicação dos primeiros conteúdos do seu filho e investir na comunicação, explicando-lhe o que deve e o que não deve fazer. É importante explicar-lhe que não deve comentar as imagens dos outros, que não deve fazer comentários sobre os seus corpos, que pode comunicar e trocar determinadas imagens dos sites que encontra, mas que não deve publicar imagens de outras pessoas. É crucial alimentar a confiança entre pais e filhos, nomeadamente porque é uma forma também de levar mais facilmente a que o filho, caso tenha um problema, fale com os pais, tornando-se mais fácil que, perante uma situação de maior risco, os filhos recorram aos pais e desabafem com eles. Mas neste padrão de comunicação, informação e apoio, há que não esquecer o equilíbrio necessário entre o dever de supervisão e o respeito pela privacidade dos filhos.

Que medidas podem ser tomadas para não se ficar viciado nas redes sociais?

É muito importante, quando se chega ao ponto do vício nas redes sociais, investir numa “desintoxicação digital” e, caso necessário, num apoio psicológico. Aqui ficam algumas dicas para se promover o afastamento das redes sociais: 

  • Dedicar tempo a outras atividades, tais como ler um livro, ver um filme/série, escrever, passear, etc;
  •  Passar mais tempo com família e amigos, colocado de lado o telemóvel nesses momentos;
  • Praticar exercício físico;
  • Consultar as redes sociais com um objetivo ou definir um número máximo “saudável”de minutos para tal;
  • Optar por desligar as notificações;
  • Estabelecer um horário para as redes sociais, de modo a cumprir tarefas prioritárias, sem perdas significativas de tempo.

A Internet e a tecnologia estão cada vez mais presentes na nossa vida, mas deverão ser elementos para a resolução de adversidades e enriquecimento de informação, não uma fonte de problemas. Como tal, é importante encontrar um equilíbrio entre o mundo real e o mundo virtual, de modo a que as redes sociais não se tornem um vício prejudicial para o nosso bem-estar, equilíbrio emocional e saúde em geral.

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