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Vinho no Feminino: Luísa Borges

Com o pai sempre a contar-lhe história sobre o Douro e o vinho do Porto, o amor pelo vinho foi surgindo lentamente. Luísa Borges faz parte da quinta geração da Vieira de Sousa, uma empresa familiar produtora de Vinho do Porto. Todos juntos, estes fatores levaram a que entrasse para o curso de Engenharia Agronómica e fizesse do Douro vinhateiro a sua casa.  

A Luísa Borges é…

Apresentaria o meu percurso de vida com uma prova vertical dos vinhos que fiz na Vieira de Sousa. Desde o 2008 espinhal ou LBV 2008, primeiro vinho que fiz (e esquecido/guardado no fundo da nossa adega); passando pelo vintage 2011, ano épico para o vinho do Porto e que vai ficar na minha memória; até os mais recentes como o 2017, ano que nasceu o meu primeiro filho e conforme manda a tradição já guardei uma pipa para envelhecer; ou o 2021… também da minha segunda pirralha. Para o futuro, espero continuar a fazer e engarrafar vintages clássicos para envelhecerem e poderem contar um pouco mais de história.

Quando é que se começou a apaixonar pelo mundo dos vinhos?

Cresci com o vinho do Porto, sempre com o meu pai a contar histórias sobre o Douro e o vinho do Porto do antigamente. Acho que não foi paixão, mas sim um amor que foi crescendo lentamente… Ir às vinhas com o meu Pai era sempre estimulante, cada parcela ou cada recanto tinha sempre uma história ou aventura. Quando dei por mim já estava a finalizar o curso de Engenharia Agronómica e a viver numa aldeia em pleno Douro vinhateiro!

É difícil conciliar a vida pessoal com a profissional?

O meu “Jardim” é o meu trabalho, moro literalmente no meio das Vinhas, portanto raramente consigo separar o trabalho da vida pessoal. Há picos de trabalho, como na vindima, que gerir uma casa com duas crianças é complicado…, mas o facto de estar perto do local de trabalho facilita. E costumo levar a família para o trabalho, os miúdos costumam ir comigo para a vinha e para a adega, o que faz com que todo o esforço seja mais fácil. Quando o meu primeiro filho nasceu tive de facto um pico de stress na minha vida profissional, deixei de ter tanto tempo disponível para a Vieira de Sousa, e foi quando pedi ajuda à minha irmã Maria para se juntar ao projeto e começar a trabalhar nos mercados, assim como a gerir o lado comercial da empresa.

© o Revelador 2020

Douro Vinhateiro © o Revelador 2020

Enquanto mulher, sente que alguma vez a trataram de forma diferente nesta área profissional?

Para ser sincera, nunca senti que isso alguma vez tenha sido um problema. Tento que o facto de ser mulher na minha área não seja uma questão, não penso simplesmente no assunto. Tento limpar esse preconceito do meu pensamento, ser uma boa profissional e reconhecida como tal, não por ser mulher. Sei que historicamente as mulheres tiveram e ainda têm de lutar por igualdade, porém na nossa sociedade já temos esse trabalho feito por outras grandes mulheres, o que facilitou o meu percurso.

O mercado dos vinhos começa agora a ser mais procurado pelas mulheres?

Sim, vejo cada vez mais mulheres nas diferentes áreas do vinho, desde a área da vinha à área do turismo. A democratização dos trabalhos e o não “sexismo” faz com que seja mais fácil ver mulheres a desempenharem trabalhos que antes eram os homens a fazer, como a poda, e vice-versa! O futuro deverá passar pela igualdade na remuneração aquando das mesmas tarefas.

O que faz um bom vinho?

Essa é uma pergunta complexa… para mim um bom vinho acima de tudo tem de proporcionar uma boa experiência, satisfazer o gosto e marcar na memória. Se me perguntar o que faz um bom vinho do porto… tudo o que disse anteriormente e ainda ter a capacidade de envelhecer, melhorar com a idade, tanto como Tawny ou como Vintage! São estas as características que me fascinam nos vinhos do Porto, é um vinho extraordinário na sua variedade e capacidade de envelhecimento.

Vinhos da Viera de Sousa. © Gonçalo Villaverde

Vinhos da Viera de Sousa. © Gonçalo Villaverde

Portugal oferece qualidade a baixo preço?

Essa tem sido a bandeira durante muitos anos de Portugal pelo mundo fora, agora temos de ser capazes de dar o passo seguinte e conseguirmos valorizar mais o nosso produto.

Temos pouca ‘reputação’ no estrangeiro?

Não, pelo contrário, somos reconhecidos como um país de qualidade e variedade. Temos de continuar a batalhar e apresentar o nosso país e vinhos de qualidade por todo o mundo. É algo que já tem sido feito, e bem, nos últimos anos.

O que deve ou pode mudar?

Talvez o conceito do vinho do porto para sobremesa e em ocasiões especiais… ideia que já está a mudar, mas muito lentamente. Têm aparecido vinhos fora da caixa também no vinho do Porto, vinhos diferentes para consumidores diferentes e que gostam de novas experiências. Temos de desmistificar um pouco mais o vinho do Porto, criar um ritual para o consumir no nosso dia a dia. Como eu costumo dizer, há um vinho do porto para cada um, com tantas categorias e estilos… basta encontrar!

Luísa Borges, , Maria Borges, © Gonçalo Villaverde

Luísa Borges com a mãe, Lurdes Fialho, e a irmã, Maria Borges. © Gonçalo Villaverde

Criada no século XIX pelo seu tetravô, José Silvério Vieira De Sousa, foi em 2008 que Luísa decidiu investir, novamente, na vertente de engarrafamento de Vinho do Porto. Com novos armazéns e equipamentos, a família voltou ao negócio de engarrafamento de Vinho do Porto e, mais tarde, nos Vinhos do Douro. Neste momento, quais são os planos para a Vieira de Sousa?

A Vieira de Sousa gostaria de manter o crescimento gradual, sempre sustentado numa filosofia familiar e de qualidade, o que nos caracteriza. Estamos com muita vontade de expandir o nosso pequeno centro de visitas, situado na Quinta da Firveda, através do aumento das experiências e provas disponíveis para o próximo ano. Tem sido uma nova experiência para tirar partido do local privilegiado da adega e do novo fluxo de turismo do Douro. Também temos vontade de abrir um pequeno alojamento local, no meio de uma das nossas Quintas, aproveitando e recuperando algumas das casas dos Caseiros.

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