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A Dermatite Atópica nas crianças

A Dermatite Atópica é uma doença crónica e atualmente incurável, que se estima que afete cerca de 10 a 20% da população pediátrica a nível mundial.

Esta é uma doença que tem um alto impacto emocional nas crianças e pais que lidam diariamente com ela. “Alegria”, “sono” e “liberdade” são apontados pelos doentes como o que mais se perde devido à Dermatite Atópica, e as áreas da vida mais impactadas são a imagem, as relações de amizade, a escola e o desporto, o que pode levar a episódios de ansiedade e tristeza.

Esta patologia, estando também frequentemente associada a vários efeitos ao nível emocional, imprime nos doentes sentimentos de vergonha, ansiedade e frustração. É sabido que os distúrbios de sono, que afetam cerca de 34% destes doentes, podem levar a fadiga e prejudicar o dia a dia, incluindo a performance de aprendizagem, ou provocar mesmo absentismo escolar.

Nesse sentido e com o objetivo de aumentar a sensibilidade e conhecimento acerca desta patologia, que surge normalmente em idade pediátrica, falámos com Pedro Mendes Bastos,  Médico especialista em Dermatologia e Venereologia, Investigador em Ensaios clínicos em Imunologia e Dermatologia e Conselheiro Científico da ADERMAP – Associação Dermatite Atópica Portugal.

Pedro Mendes Bastos

Pedro Mendes Bastos

O que é que é a Dermatite Atópica?

A Dermatite Atópica (DA) é uma doença de pele que pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais frequente na infância. É também conhecida como eczema atópico e estes termos são sinónimos.

É particularmente frequente em bebés, crianças e adolescentes, estimando-se que possa afetar 20% da população em idade pediátrica nos países desenvolvidos. Habitualmente melhora com o avançar dos anos, podendo persistir para a vida adulta.

A DA é caracterizada pela secura da pele (xerose), comichão (prurido) e surgimento de manchas avermelhadas, ásperas e descamativas (eczema). A DA é considerada um problema crónico, isto é, terá tendência para ocorrer de forma recorrente ao longo de meses a anos.

Portanto, é fácil para os pais suspeitarem de DA caso se verifiquem estes sintomas e sinais (xerose, prurido e eczemas) de forma crónica e evoluindo por fases de agravamento e fases de acalmia. 

Quais são as consequências desta doença?

Esta aparece na maioria dos casos durante o primeiro ano de idade, embora possa começar em qualquer idade. Na infância e puberdade, as manchas de eczema tendem a aparecer nas dobras da pele (pregas) como os sangradouros, atrás dos joelhos ou no pescoço. Os sintomas físicos decorrentes de eczemas recorrentes são extremamente incomodativos e impactam nas tarefas simples da vida como vestir-se, tomar banho, praticar desporto, atividades sociais que impliquem mostrar a pele, perturbações de sono (pela comichão) e dificuldades de concentração na escola.

Existe um espectro de gravidade na DA, classificando-se a maioria dos casos como ligeiros, ou seja, aqueles que podem ser controlados adequadamente com cuidados tópicos (de aplicação na pele). Algumas pessoas vão sofrer de formas moderadas a graves de DA, sendo habitualmente necessários outros tipos de tratamentos como fototerapia (tratamento com radiação ultravioleta) ou medicamentos orais ou injetáveis.

As consequências da DA moderada a grave são mais acentuadas quando comparadas às formas ligeiras, naturalmente.

Dá para prevenir?

Esta doença é complexa e surge devido à interação entre fatores genéticos e fatores do ambiente. Em muitos casos de pessoas com DA é fácil identificar na família a tendência genética que predispõe para esta situação (por exemplo, familiares afetados com DA ou outras doenças do espetro da atopia como a asma ou a rinite alérgica). Sabemos que ter um ou ambos os progenitores com dermatite atópica aumenta o risco das crianças desenvolverem esta doença, mas os estudos sobre estratégias de prevenção não demonstraram ainda de forma significativa eficácia em nenhuma estratégia particular de prevenção.

Quais são os tratamentos disponíveis para a DA nas crianças e adolescentes?

A DA deve-se a dois fatores principais: incapacidade da pele funcionar como barreira protetora do exterior e um erro no sistema imunitário responsável por inflamação excessiva na pele.

Os tratamentos são individualizados e devem ser ajustados a cada caso. Contudo, o plano terapêutico deve sempre incluir medidas dirigidas aos dois pontos que enunciei anteriormente. Por um lado, produtos que melhorem a capacidade de proteção da pele (cremes, bálsamos, óleos de higiene adequados) e, por outro, medicamentos com capacidade anti-inflamatória na pele (sejam de aplicação tópica como cremes e pomadas, ou sistémicos). Para as formas moderadas a graves, mesmo os tratamentos tópicos realizados de forma otimizada podem não ser suficientes, e o recurso a tratamentos como fototerapia ou medicamentos sistémicos como a injeção subcutânea dupilumab, por exemplo, são possibilidades a considerar pelo médico dermatologista, sempre caso a caso.

De que forma é que esta doença impacta as crianças e os adolescentes?

Para além das limitações no dia a dia já descritas anteriormente, faz sentido falarmos do impacto psicológico se nos referirmos aos casos de DA moderada a grave em crianças e adolescentes. O prurido é um sintoma cardinal, podendo ser tão intenso que perturba o sono, com consequências potencialmente graves nas esferas afetiva e cognitiva das crianças e adolescentes.

O prurido e os eczemas na pele podem ser bastante impactantes e provocar desconforto que culmina em falta de atenção na escola e mesmo comportamentos de ansiedade.

O que é que os pais podem fazer para ajudar os filhos? 

Os casos de DA moderada a grave devem ser avaliados como um todo, sendo que a intervenção mais eficaz para evitar o impacto psicológico é, em primeira instância, o tratamento médico desta doença dermatológica.

Os contextos emocional e familiar merecem adequada valorização, naturalmente, e a sua correta avaliação também é uma parte importante do controlo da DA moderada a grave.

Os pais devem ajudar a transmitir a noção de que a DA é uma doença crónica, constituindo um desafio que mais se assemelha a uma maratona do que a uma corrida de 100m é fundamental. Envolver a criança ou adolescente no tratamento ativo e na gestão do dia a dia é crucial. Por outro lado, com confiança no médico e mantendo a esperança no tratamento, alcançar uma vida saudável e realizada não só é desejável como possível. A noção de que com responsabilidade e adesão à terapêutica conseguiremos ultrapassar esta barreira é a mensagem mais poderosa a dirigir às crianças e adolescentes.

Porque é que é importante falar sobre esta patologia?

A importância deve-se ao facto de ser comum as crianças, adolescentes e famílias que vivem com DA sentirem-se isoladas e desesperadas quando a DA ainda não está controlada.

Particularmente nos casos moderados a graves, é fundamental transmitir a ideia de que é possível estabilizar a doença e almejar uma vida o mais normal possível.

A Associação Dermatite Atópica Portugal tem desempenhado um papel notável neste aspecto e encorajo todas as pessoas e famílias que lidam com DA a visitar o site, em adermap.pt . Especificamente para as crianças com DA moderada a grave, saliento o projeto ‘A Diana e a Dermatite Atópica’. Foi com muito gosto que contribuí como revisor científico para os filmes e livros ‘A Diana e a Dermatite Atópica’. Trata-se de um projeto diferenciador que procura disseminar informação sobre DA moderada a grave nas crianças, mas de forma acessível e divertida através de livros e filmes. Contamos a história da Diana, uma menina que vive com Dermatite Atópica grave, mas que consegue ultrapassar todos os estigmas da doença.

Combater a desinformação e facilitar a vida das crianças com DA grave são os objetivos e vantagens deste tipo de materiais e da comunicação direta de educação em saúde com materiais adequados à idade pediátrica.

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