Entre hoje e 15 de setembro, inicia-se um novo ano letivo. Enquanto uns encaram esta fase com otimismo, pois vão voltar aos dias passados com os amigos, outros sentem ansiedade e medo do que está por vir. A estes sentimentos, juntam-se, muitas vezes, a pressão, a exaustão e o cansaço. E, em vez de crescimento, há esgotamento. É neste contexto que o burnout académico emerge.
Segundo Cátia Silva, Psicóloga Clínica especializada em Ansiedade, Burnout, Depressão, PHDA e Autoestima, o burnout académico não é “falta de vontade” nem uma “birra adolescente”. É, na verdade, “um estado de exaustão emocional, mental e física provocado por um excesso de exigência escolar, muitas vezes acumulado ao longo de meses ou anos. É quando o estudo, que devia ser um espaço de descoberta e autonomia, se transforma num campo de batalha interno”.
Cátia Silva, Psicóloga Clínica especializada em Ansiedade, Burnout, Depressão, PHDA e Autoestima
Apesar de afetar, sobretudo, adolescentes e universitários, há cada vez mais crianças: “Temos visto casos em que o burnout começa no ensino básico, sobretudo quando há uma cultura de hiperexigência instalada desde cedo: testes constantes, explicações após as aulas, pouco tempo livre, excesso de atividades extracurriculares, pressão para ser “o melhor” e, por vezes, o peso adicional de expectativas parentais difíceis de suportar”, explica a psicóloga.
Nem sempre é fácil identificar o burnout académico, sobretudo porque, segundo Cátia, muitos jovens escondem o que sentem para não “desiludir”. Mas há sinais a que pode estar atenta:
- Fadiga constante, mesmo após descanso;
- Perda de interesse pelo estudo ou por atividades que antes gostava;
- Baixa autoestima e autocrítica excessiva;
- Irritabilidade, isolamento ou apatia;
- Dificuldade de concentração e memorização;
- Queixas físicas (dores de cabeça, problemas de sono, náuseas);
- Medo excessivo de falhar ou de “não ser suficiente”.
Estes sintomas são frequentemente confundidos com preguiça, falta de motivação ou rebeldia, quando na verdade, podem ser comportamentos silenciosos de um corpo e mente sobrecarregados. Cátia Silva refere que “saber identificar estes sintomas é primordial para prevenirmos, e a melhor prevenção começa na forma como olhamos para o sucesso académico e como o comunicamos às crianças e jovens”. Ou seja, não deve passar a mensagem e que “só vales pelo que consegues”, pois, assim, está a abrir um caminho para a ansiedade e para o burnout. Deve, antes, validar o “esforço, a curiosidade e o equilíbrio”, ajudando a “criar um ambiente onde o erro é permitido e o descanso é legítimo”.
Posto isto, algumas estratégias práticas que podem ajudar são:
- Promover rotinas equilibradas com tempo para descanso, lazer, sono e socialização;
- Evitar sobrecargas com explicações e atividades extracurriculares em excesso;
- Falar sobre emoções relacionadas com a escola, validando medos e frustrações;
- Encorajar pausas e momentos criativos entre períodos de estudo;
- Reforçar a autoestima com base no valor pessoal e não apenas no desempenho.
Se uma criança ou jovem já apresenta sinais de burnout, o mais importante é criar um espaço de escuta segura, sem julgamento, sem pressão, sem soluções imediatas. É preciso abrandar: talvez reavaliar o número de atividades, flexibilizar metas, procurar apoio psicológico e, sobretudo, devolver tempo para respirar.
“Para os pais, pode ser difícil aceitar que o/a filho/a “precisa de parar” ou “está a sofrer com a escola”, mas reconhecer isso é um gesto de coragem e de amor. O burnout académico não é sinal de fraqueza. É sinal de que o sistema precisa de ser repensado e que os nossos filhos precisam de ser ouvidos antes de serem cobrados”, conclui Cátia.
Neste regresso às aulas, o conselho da psicóloga é focar-se no bem-estar emocional.