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Body Imagem Movement com embaixadora lusa

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Socialmente, as mulheres estão sujeitas a uma pressão constante e o segredo reside em saber tirar partido dessa pressão, sem nos tornarmos obcecadas. “Nem todas podemos ser uma Gisele Bündchen. Acho absolutamente fantástico as pessoas fazerem exercício e comerem de forma saudável porque querem ter determinado peso, mas viverem obcecadas com isso? Menos! Somos bombardeadas com mulheres perfeitas a toda a hora, e todas sabemos que a indústria da moda e da cosmética existem para nos fazer gastar dinheiro. Cabe-nos a nós ceder ou não a esse tipo de pressão”, diz Marta.

Joana Beato, psicóloga clínica no Hospital da Luz, afirma que, de uma maneira geral, a sociedade ainda sobrevaloriza o que se tem em detrimento do que se é, “seja um corpo, um cargo ou bens materiais, como se fossem representativos do valor de uma pessoa e, como tal, decisivos na apreciação positiva de si”.

Marta não se vê como uma ‘supermulher’, apenas não vive obcecada com a sua aparência física. Sabe as suas limitações e pontos fracos e tenta contorná-los. “Podia ser mais magra? Podia, mas adoro comer, adoro tudo o que tem a ver com cultura gastronómica e, além disso, cozinho lindamente, dizem!”

Foi a dança que despertou uma nova pessoa em Cátia Esteves, uma mulher muito segura de si relativamente ao corpo e à mente. Com 11 anos de carreira, a professora e bailarina de Dança Oriental afirma que tudo mudou quando se iniciou nesta arte: “Algo na dança despertou os meus sentidos. Com ela, aprendi a descobrir o meu corpo, a expressar-me através de cada batida, cada movimento, cada toque.”

A dança fê-la perder algum volume e peso. Hoje, Cátia vê-se como alguém saudável e, numa palavra, com um corpo delicado. Desta arte, veio toda a sua segurança enquanto pessoa e bailarina, mas por vezes ainda sente alguma pressão exterior: “Senti e ainda sinto, principalmente quando estou em grupos em que as pessoas são mais magrinhas. No entanto, acaba por não ter qualquer tipo de influência em mim. Sou como sou e gosto de mim.

Cátia acredita que o ambiente em que as mulheres estão inseridas (um grupo de amigos ou de trabalho, por exemplo) torna complicado lidar com algumas situações, quebrando a autoestima: “Às vezes, um elogio das pessoas de quem gostamos é importante para cada uma de nós se sentir bonita.”

A psicóloga frisa precisamente a forma como as opiniões e apreciações dos companheiros poderão influenciar fortemente a visão que uma pessoa tem de si mesma, a autoconfiança, e, como tal, a autoestima: “Muitas vezes, a mulher teme que a relação afetiva seja condicionada pelo seu aspeto físico, e teme perder alguém se não corresponder aos seus padrões de beleza, corpo e imagem.” A imagem é importante, até porque os olhos também têm de gostar, e a mulher deve cuidar de si e sentir-se bonita, “mas sem ficar refém de uma exigência de perfeição: o amor, seja por si próprio seja por outro, não pode ser condicional a um corpo.”

Trabalhar no mundo da moda fez Carla Soveral, fundadora da agência Triângulo das Bermudas, sentir-se muitas vezes como ‘peixe fora de água’: “Tal como na Natureza, no mar há peixes de todos os tamanhos e formas, e entre os humanos é igual”, afirma.

A segurança que sente em relação ao seu corpo, que descreve como curvilíneo, vem de ter passado uma vida à procura de encaixar num estereótipo, porque, por mais dietas que fizesse, nunca teria o corpo que idealizava.

Decidi fazer terapia para me conhecer melhor e percebi que o que me torna especial não está ligado com o meu peso, mas sim com as minhas qualidades enquanto pessoa, bem-disposta, com uma energia positiva e evolutiva e trabalhadora. Sem saber, já era feliz!

Durante a adolescência (e por uns 20 anos) acreditava que a vida seria melhor se fosse magra, e culpava as falhas pelo seu excesso de peso, algo que a psicóloga Joana Beato corrobora: “O corpo tornou-se símbolo de valor e fonte decisiva na apreciação de si. Daí que, muitas vezes, seja visto como o responsável ou até o culpado por alguns dos insucessos.

Há a crença ou a idealização de que, se tivessem um corpo ‘melhor’ e se se aproximassem dos padrões ideais, seriam muito mais felizes.” Com a ajuda da terapia, percebeu quem era e aceitou os seus defeitos e qualidades como características: “Tal como sei que sou portuguesa, de olhos castanhos, e que calço o 39, também aceitei que visto o 44. Faz parte de mim.”

Para Carla, a baixa autoestima das mulheres vem do facto de não se aceitarem como são: “A Levi’s tem um slogan perfeito para as suas ID Curve: ‘It’s not about the size, it’s about the shape.’ Se as mulheres se habituarem a olhar de frente para o espelho, vão poder vestir-se de acordo com as suas formas e não numa tentativa frustrada de parecerem a modelo da campanha publicitária”, explica.

O primeiro passo é comprar um espelho de corpo inteiro; o segundo é conhecer as lojas e saber se os tamanhos que apresentam estão de acordo com o tamanho que vestem: “Há que ter consciência do corpo que se tem e não ter medo de experimentar.”

Sentirmo-nos bem na própria pele e gostarmos de nós é, assim, uma ferramenta essencial para o dia a dia. “Quanto maior for a autoestima, maiores serão a segurança, a criatividade, a flexibilidade, a capacidade para ver opções e alternativas para lidar e superar os problemas”, explica Joana Beato. Quanto mais gostarmos de nós, mesmo com todas as imperfeições, mais bonitas e atrativas nos tornaremos, aos nossos olhos e aos dos outros.

Os padrões de beleza são discutíveis e o corpo é apenas uma parte daquilo que nos constrói enquanto seres humanos. É preciso perceber que, acima de tudo, temos de aceitar quem somos e aprender a viver com o que não apreciamos tanto em nós: “A procura da perfeição física é apenas fast food para o ego. Há que questionar se queremos ser amados e apreciados só ‘se’ ou ‘enquanto’ o corpo for desta ou daquela forma”, conclui a psicóloga. Será que faz sentido viver refém de medidas e valores?

No espelho, ainda vejo uma imagem distorcida. Desta vez, contudo, percebo que, mesmo com as minhas imperfeições, o meu corpo continua a ser bonito. Estaria a mentir se dissesse que, depois de escrever este texto, todos os meus complexos desapareceram. Continuam comigo, mas agora sei o que tenho de fazer, e não passa por perder mais cinco quilos, mas sim por me aceitar como sou.

Está na altura de me ver com novos olhos, esquecer algumas experiências do passado e refletir sobre os padrões de beleza pelos quais me tenho guiado. Não é o meu corpo que define o meu valor. O percurso que tenho de fazer ainda é longo, principalmente porque preciso de alinhar o meu lado racional com aquilo que realmente sinto.

Próximo passo? Aceitar as minhas curvas e consciencializar-me de que todos temos imperfeições. Como Bernardo Soares, heterónimo de Fernando Pessoa, escreveu em ‘O Livro do Desassossego’: “Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter. Repugná-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito.

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