Associado a uma taxa de mortalidade alta, o Cancro do Ovário não é dos tumores mais frequentes, mas é estimado como a 8.ª causa de morte por cancro na mulher em todo o mundo. Crescendo de forma silenciosa, revela-se perigoso.
Em 2020, foram diagnosticados, em Portugal, 561 novos casos e registadas 408 mortes por este tumor. Depois de termos trazido cinco coisas que importam saber sobre o cancro do ovário– onde Cristina Frutuoso, ginecologista, nos informa sobre este tumor- chegou a vez de abordarmos este tema na primeira pessoa. Para isso, falámos com Marta Morgado, diagnosticada com Cancro do Ovário.
Marta Morgado
Como é que descobriu que tinha Cancro do Ovário?
Tinha 44 anos quando recebi o diagnóstico. Recebi o diagnóstico de Cancro do Ovário a 8 de Junho de 2020. O meu umbigo veio para fora e o meu abdómen começou a aumentar de volume de tal forma que me impossibilitava comer, beber, limitando-me também os movimentos.
O meu aspeto físico transformou-se em poucos dias.
Perdi muito peso e fiquei com o aspeto de grávida de gémeos de fim de tempo mas com anorexia. O cansaço era extremo. Fui de imediato ao médico de família que me pediu uma bateria de exames urgente.
De que forma é que o cancro alterou a sua rotina?
O cancro alterou a minha rotina da seguinte forma: passei a pensar em mim em primeiro lugar, a passar mais tempo comigo e a mimar-me mais. Alterei a minha alimentação, praticamente não como carne, privilegiando os vegetais, sumos verdes e frutas.
Reduzi as horas de trabalho, passo mais tempo na natureza e não perco oportunidades, deixei de passar para amanhã as coisas boas que posso fazer hoje!
O que é que foi fundamental para encarar o cancro?
Rodear-me de pessoas positivas, focar-me no que é realmente importante, ouvir a opinião dos melhores especialistas médicos da área, recorrer a fontes de leitura seguras e com finais de superação.
Como é que tem sido a sua jornada?
Obviamente com altos e baixos. Um diagnóstico de cancro não nos tira só o chão. Abana-nos toda a nossa estrutura. Faz-nos repensar tudo. Senti a morte muito próxima. Percebemos que a vida tem um fim e que não controlamos absolutamente nada nesta vida.
Acha que o otimismo tem um peso importante na superação da doença?
É imprescindível. O nosso pensamento cria a realidade. Tenho um mantra diário que adotei desde o diagnóstico que acredito que encaminha as minhas células para a cura.
Se me surge um pensamento negativo vou ao baú das memórias, por exemplo das fantásticas viagens que já realizei, e o meu coração apazigua.
O contacto mais próximo com a natureza como as caminhadas que faço diariamente energizam-me para continuar na luta e viver a vida em pleno, não permitindo que o diagnóstico me condicione a vida.
A família e os amigos foram um apoio fundamental?
Sem dúvida. A família e os amigos mais próximos foram e são uma ajuda preciosa. Não somos super mulheres. Sobretudo no pós-cirurgia foram imprescindíveis para o sucesso da minha recuperação. O apoio foi diário uma vez que fiquei dependente até recuperar. O pós-cirúrgico de uma operação de 8 horas leva tempo, sobretudo quando a incisão é ao nível abdominal e muscular. Perdi quase 20 quilos. Fiquei com 45 quilos e tenho 1,71cm. O apoio da Associação MOG – Movimento do Cancro do Ovário e Outros cancros Ginecológicos também foi e tem sido um grande apoio. Partilharmos a nossa história com quem já passou pelo mesmo, ajuda-me a seguir mais leve, forte e segura de que não estou só.
O que é que diria a alguém que descobriu agora que tem cancro?
Diria para respirar bem fundo e não entrar em pânico. Primeiro tem de aceitar o diagnóstico. Depois é seguir em frente, consultar os médicos especialistas da área e confiar na medicina. Ouvir as opiniões dos especialistas e também a sua intuição. Pedir e aceitar todas as ajudas.
Nunca se esqueça que o Cancro não é uma sentença de morte mas sim um Chamado para a Vida!