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Conseguia viver sem rede?

As novas tecnologias podem ter consequências graves quando usadas em demasia. Tire melhor partido da internet e viva uma vida feliz.

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Rita e Bárbara conheceram-se em Londres, há seis anos, e a ideia para o projeto surgiu ainda enquanto lá estavam. Como utilizavam transportes públicos diariamente, perceberam que eram poucas as pessoas que não iam literalmente ‘agarradas’ ao telemóvel. A visão entristeceu-as, quiseram fazer alguma coisa para mudar o cenário e contribuir para um mundo melhor. “Londres é uma cidade com imensas pessoas e como andávamos muito de metro, percebemos que ninguém se olhava, olhavam todos para o ecrã do telemóvel. Achámos que devíamos fazer alguma coisa em relação a isso, porque percebemos, precisamente, que as pessoas estavam a perder a sua própria vida… Quando viemos para Portugal, também nos apercebemos do mesmo cenário. Ficávamos tristes, quando víamos, por exemplo, casais sentados em frente um do outro sem conversarem, a olharem apenas para o telemóvel… E isso acontece muito, hoje em dia, e é um grande perigo. Queríamos um espaço para criar este projeto, um espaço que nos permitisse oferecer às pessoas a experiência de estarem offline. Pesquisámos na internet, encontrámos este lugar, na Arrifana, e cá estamos há dois anos”, explica Rita Pim.

Este espaço ajuda também a isso, a que as pessoas se descubram mais a elas próprias e a que percam alguma timidez.

Em troca do uso das tecnologias, a Offline Portugal sugere aulas de surf e de ioga, música, convívio e “muitas gargalhadas!”, como sublinha Bárbara Miranda, ao que acrescenta: “A ideia é descontrairmos. O ioga é ótimo, porque nos ajuda a focar em nós próprios e ajuda a perdermos alguns medos, como o medo do mar, por exemplo, em que, por vezes, é só mesmo uma questão de autoconfiança. As pessoas vêm, descansam, descontraem… Algumas vêm sozinhas (a maior parte), outras acompanhadas… E, por vezes, temos agradáveis surpresas, como foi o caso de um rapaz, muito tímido ao início, que depois se revelou uma pessoa extraordinária a tocar jambé! Foi muito engraçado. Este espaço ajuda também a isso, a que as pessoas se descubram mais a elas próprias e a que percam alguma timidez. A ideia é que se sintam em casa, podendo usufruir da nossa companhia ou não. Se quiserem ficar sozinhas, ficam…”

Com Agosto e Setembro quase sempre cheios, o espaço tem superado as expetativas iniciais e o feedback não podia ser melhor. “Temos pessoas que dizem que vão passar a fazer detox digital uma vez por semana, outras que desligam o telemóvel e só o ligam quando chegam ao destino, ou outras que afirmam que agora só veem os e-mails a uma determinada hora… É muito giro!”, explica Rita Pim.

Mudar comportamentos, uma missão impossível?

Até que ponto estaria disposta a viver sem telemóvel? Conseguiria abdicar do uso do seu smartphone, em prol de uma vida mais real e menos digital? A jornalista Mariana Cardoso conseguiu. Por ter noção de que estava a entrar num círculo vicioso, decidiu dar um novo rumo à sua vida e experimentar algo novo. “Não era capaz de me desligar do mundo. E foi isso mesmo que me fez embarcar nesta aventura. Entrei num ponto de rutura. Precisava de mudar. Precisava que a minha vida mudasse. Precisava de uma experiência diferente. Por isso, decidi ir sozinha, uma semana, para longe do mundo. Foi uma das melhores decisões que tomei até hoje!”, diz.

No último dia, foi muito difícil voltar a pegar no telemóvel. Liguei-o e começou logo a vibrar. Mensagens e mensagens. Tinha 50 notificações no Facebook! Desliguei os dados móveis e guardei o telemóvel. Fui para a praia.

Os cinco dias que passou na Offline Portugal revelaram-se importantes. Apesar do passo inicial ter sido difícil, a experiência não podia ter corrido melhor, como explica: “O primeiro dia foi mais difícil. Lembro-me de que fiquei no carro a ligar às pessoas mais importantes (mãe, pai, irmãos, amigos…) a avisar que ia entrar na casa e que ia ficar sem telemóvel por cinco dias. Lá ganhei coragem. No primeiro dia, não conhecia quem quer que fosse, a não ser a Bárbara, uma das criadoras do projeto. Fiz uma aula de ioga e, durante o jantar, conheci o resto das pessoas com quem partilhava o quarto (fiquei num dormitório com mais três pessoas). Senti falta do telemóvel de manhã, ao acordar. Mas é tudo uma questão de hábito. Passei os dias a fazer aulas de surf. Conheci pessoas novas do mundo inteiro. Fui jantar fora. Saí à noite. Sempre sem telemóvel. Apenas dizia “estou naquele sítio àquela hora”. E assim era.”

A experiência de detox digital trouxe-lhe algo verdadeiramente benéfico: a vida, na sua plenitude: “No último dia, foi muito difícil voltar a pegar no telemóvel. Liguei-o e começou logo a vibrar. Mensagens e mensagens. Tinha 50 notificações no Facebook! Desliguei os dados móveis e guardei o telemóvel. Fui para a praia. Não queria voltar ao mundo real. Não queria lidar com o telemóvel. Nem queria falar fosse com quem fosse. Estava bem assim. Isolada do mundo, mas rodeada de gente nova, de pessoas fantásticas, numa das melhores praias de Portugal (a praia da Arrifana, em Aljezur). Foi difícil voltar a estar ligada, porque é muito bom estar desligada de tudo. Senti que, pela primeira vez, descansei verdadeiramente durante as férias. Não senti qualquer tipo de ansiedade, vivi tudo ao máximo! Aproveitei o que havia para aproveitar, sem distrações. Com esta experiência aprendi que a tecnologia nos impede de viver verdadeiramente. Numa semana, conheci mais pessoas do que em anos. Tive um jantar sem qualquer tipo de interrupção (telefonemas, mensagens, Facebooks…), sem selfies, sem fotos à comida… E parece que não, mas faz toda a diferença. Conheci verdadeiramente quem estava comigo. Fiz amigos para a vida e de todo o mundo. Consegui descansar. Desligar-me. Aventurei-me em novos desportos. Fiz surf pela primeira vez. Fiz ioga. Percebi que estar ligada no Facebook não significa que faço parte do mundo. Antes pelo contrário”, confessa.

Fazer um digital detox é um regresso ao passado, ao tempo em que não éramos dependentes de tecnologia e havia mais contacto, mais ligação entre as pessoas.

Com esta mudança de perceção veio a mudança de comportamento. Hoje, tarefas simples como ir ao supermercado ou jantar fora não incluem telemóvel. Sem querer suprimir de forma total as novas tecnologias da sua vida, a jovem jornalista encontrou um ponto de equilíbrio: “Sei que vai ser impossível viver sem tecnologia. Nem quero. É importante para o meu trabalho e para a minha vida pessoal. Permite-me estar ligada a muitas pessoas que estão longe. Mas gosto bastante do facto de conseguir, de vez em quando, desligar-me. Não ficar preocupada por achar que, durante a hora em que estou nas compras, me vão ligar”, diz.

Para Susana Meireles foi igualmente uma experiência rejuvenescedora, como refere: “Fazer um digital detox é um regresso ao passado, ao tempo em que não éramos dependentes de tecnologia e havia mais contacto, mais ligação entre as pessoas. Foi bom perceber que somos capazes de viver sem a tecnologia, mesmo que pareça drástico, é possível. Aconselho vivamente. É revigorante. Voltei cheia de ideias para escrever no meu projeto. Consegui pôr as leituras em dia, a casa está cheia de livros de toda a natureza, o que é excelente para exercitar a mente. Conversei com todos os hóspedes, partilhávamos a mesa ao pequeno-almoço, fiz amizades que não nasceram de um link! Confesso que não pensei muito sobre isto, quando marquei as férias. À medida que a data se ia aproximando só pensava: ‘como é que vou aguentar?’ Cheguei a enviar um e-mail a perguntar se podia usar o telemóvel fora da casa, porque tinha família por perto, na mesma altura, e queria encontrar-me com eles. Mas assim que fiz o check-in, o telemóvel fico guardado a cadeado, e qualquer receio que tinha, desapareceu. A boa vibração da casa deixou-me confiante, para uma semana sem mundo digital.”

Rita Pim relembra que se trata, acima de tudo, de uma mudança comportamental, “a mais difícil de todas”, como refere. Mudar comportamentos exige mudar mentalidades. E essa mudança de mentalidade tem de ser feita o quanto antes, segundo alguns especialistas.

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