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Conseguia viver sem rede?

As novas tecnologias podem ter consequências graves quando usadas em demasia. Tire melhor partido da internet e viva uma vida feliz.

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Para o pedopsiquiatra britânico Richard Graham, um estudioso destas matérias, o problema começa logo na infância e tende e agravar-se na adolescência. Se não doseado, o uso das novas tecnologias pode trazer consequências complicadas, ao quotidiano e na vida das crianças e dos jovens. “Infelizmente, as novas tecnologias estão acessíveis e são atrativas para os jovens e as crianças, mas não é feito um equilíbrio no seu uso, ninguém dita as regras, elas estão ali, acessíveis, a toda a hora… As crianças e, em particular, os adolescentes, estão constantemente à procura de novas experiências, experiências essas que vão ditar, depois, o seu desenvolvimento e a sua entrada no mundo adulto. O que o uso excessivo das novas tecnologias faz é tirar a estes jovens e a estas crianças a oportunidade de o seu cérebro se desenvolver naturalmente, porque está demasiado ocupado com tudo a que eles acedem online. Ou seja, este grupo de pessoas perde a vida na sua plenitude e na sua essência. E isso é preocupante.”

Quando as novas tecnologias começam a ter maior influência na vida destas crianças ou destes jovens do que qualquer pessoa ou qualquer outra atividade, então, é necessária a intervenção de um especialista.

Richard Graham é fundador do primeiro programa de detox digital, em Londres, no Nightingale Hospital London, lançado em Março de 2010 e, por isso, um dos pioneiros da Europa.

Com a Offline Portugal, Rita Pim e Bárbara Miranda pretendem essa mudança de mentalidades. “A mudança de comportamento é a mudança que demora mais tempo e nós temos consciência disso. Mais ainda quando esse comportamento se verifica em massa. O nosso objetivo é criar uma marca que seja divertida e à qual as pessoas se queiram associar, que queiram fazer parte do movimento”, explica Rita Pim.

O especialista Richard Graham vai mais longe: “Quando as novas tecnologias começam a ter maior influência na vida destas crianças ou destes jovens do que qualquer pessoa ou qualquer outra atividade, então, é necessária a intervenção de um especialista. Outro exemplo, quando ficam demasiado agitados e impacientes quando estão longe do telemóvel ou de qualquer dispositivo eletrónico, é sinal de que precisam de ajuda. Porque estes são sinais de que a relação destes jovens ou destas crianças com as novas tecnologias não é saudável, mas antes obsessiva”, explica. O tratamento é personalizado e adequado às necessidades de cada jovem e de cada criança, depois de serem avaliados numa consulta de especialidade.

Em Portugal, existe já uma consulta semelhante, no serviço de saúde público. O Hospital de Santa Maria disponibiliza o Núcleo de Intervenção Problemática da Internet (NUPI), um serviço direcionado para jovens entre os 18 e os 30 anos, e que presta apoio psicoterapêutico, determinando a prevalência de uso das novas tecnologias com os instrumentos para o efeito (escalas). É ainda um serviço que procura desenvolver investigação clínica dirigida à clarificação desta problemática e potenciais intervenções. Criada em 2014, a NUPI já realizou ações de sensibilização em centros de saúde de Lisboa, com vista a ajudar médicos a identificarem os sinais de alerta e está a planear outras ações em estabelecimentos de ensino, junto de professores e psicólogos.

Daqui, para onde vamos?

É preciso encontrar um ponto de equilíbrio. Com inúmeros benefícios, como encurtar as distâncias, comunicar instantaneamente e partilhar momentos únicos com quem está longe, por exemplo, a internet pode ser uma mais-valia na nossa vida se existir, de facto, esse equilíbrio.

É urgente e crucial estarmos atentos a este problema, porque as pessoas, ao usarem a internet e as redes sociais como estão hoje a usar, estão a pôr em causa a sua concentração, o seu sono e descanso puro e, em particular nas crianças, o saudável desenvolvimento neurológico.

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Susana Meireles e Mariana Cardoso são unânimes na opinião sobre o assunto. “Acho que devemos aprender a conviver com a tecnologia e não sermos dependentes desta. A tecnologia ajuda-nos, e muito, porque é instantânea, é presente, num momento em que precisamos de respostas simples. Mas temos de encontrar o equilíbrio nesta relação”, refere a primeira. Mariana Cardoso refuta e vai mais longe: “Viveríamos muito melhor sem tecnologia. O meu mundo foi muito melhor durante a semana que estive desligada. Por isso, não tenho dúvidas de que se vivêssemos sem tanta tecnologia, seríamos mais felizes. Eu fui muito feliz durante a semana no Offline, como já não era há muito tempo. Muito se deve ao facto de não ter pegado, um dia, no telemóvel. Porque vivi verdadeiramente tudo o que se passava à minha volta. Vivi no presente, no momento. E não com ansiedade do futuro ou com nostalgias do passado.”

O pedopsiquiatra Richard Graham fala em problemas de difícil solução. “Aquilo a que estamos a assistir, hoje em dia, é que as pessoas que procuram ajuda especializada, por causa da sua adição à internet, acabam por resolver outros problemas que tinham escondidos, relacionados com o foro psicológico. No entanto, manter uma relação saudável e equilibrada com a internet é uma tarefa árdua. É urgente e crucial estarmos atentos a este problema, porque as pessoas, ao usarem a internet e as redes sociais como estão hoje a usar, estão a pôr em causa a sua concentração, o seu sono e descanso puro e, em particular nas crianças, o saudável desenvolvimento neurológico.”

Um estudo recente do ISPA – Instituto Universitário de Ciências Sociais, Psicológicas e da Vida – refere que, atualmente, cerca de 70% dos jovens em Portugal é dependente da internet, sendo que, desses casos, 13% são considerados graves. Levado a cabo por Ivone Patrão, Investigadora da Unidade de Intervenção em Psicologia, o estudo passou por três fases de aplicação de questionários junto de jovens e adolescentes dos 14 aos 25 anos, envolvendo quase 900 inquiridos. Num cenário que se revela preocupante, um pouco por todo o mundo, são cada vez mais as instituições e associações criadas para o combate a todo o tipo de problemas relacionados com o uso indevido da internet. A Associação Americana de Psiquiatria, responsável pela edição do manual de diagnóstico das doenças mentais (DSM) pondera, desta forma, incluir este flagelo nas perturbações mentais, definindo-a como “perturbação de uso da Internet”.

Se é daquelas pessoas que não vive sem telemóvel e sem tablet ou computador, talvez seja este o momento ideal para repensar a sua vida. Experimente passar umas horas sem tecnologia e verá que todos os seus dias terão muito mais sabor e significado.

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