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Cristina Mesquita de Oliveira: “A única verdade absoluta em relação à menopausa é que difere de mulher para mulher”

Reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como relevante para sensibilizar as pessoas relativamente a questões relacionadas com a saúde da vida reprodutiva das mulheres, o Dia Mundial da Menopausa é assinalado todos os anos no dia 18 de outubro. Esta efeméride ainda se revela essencial devido ao facto desta ser uma fase da vida da mulher ainda envolta em bastante tabu. 

Cristina Mesquita de Oliveira, fundadora e presidente da VIDAs Associação Portuguesa de Menopausa e da Comunidade de Saúde em Menopausa Movimento Menopausa Divertida e autora da única obra em livro sobre menopausa “Descomplicar a Menopausa”, afirma que as pessoas não têm noção que nada sabem sobre o tema”. 

Cristina Mesquita de Oliveira

Cristina Mesquita de Oliveira

De forma a informar e desmistificar, a LuxWoman falou com a especialista sobre este tema. 

A menopausa é?

Um dia na vida das mulheres, quando faz doze meses que a mulher teve o último período menstrual – esta é a definição exata de menopausa. Na prática, divide-se em três fases distintas, que não são muito conhecidas, com características, datas e sinais específicos. A primeira fase corresponde à pré-menopausa, que dura desde o início da primeira menstruação (menarca) até à perimenopausa. A segunda fase diz respeito à perimenopausa, que se inicia com alguns sinais relacionados com o processo de menopausa, como alterações menstruais, algum tipo de ansiedade, aumento de peso, entre outros. A terceira fase refere-se à pós-menopausa, que se inicia quando a mulher faz doze meses sem menstruar.

Como podem as mulheres lidar com os sintomas da menopausa, tais como afrontamentos, redução da libido ou dificuldades em adormecer?

Não há um segredo especial para se lidar com os efeitos da menopausa. Em primeiro lugar, deve-se ter em consideração que cada mulher vive a sua menopausa de uma forma diferente. A única verdade absoluta em relação à menopausa é que difere de mulher para mulher. Assim, a forma de gerir os efeitos menos agradáveis da menopausa – efeitos com impacto no corpo, na saúde mental e física da mulher – , é lidar com cada um à medida que vai aparecendo.

Neste processo, a informação é um aspeto essencial, isto é, a mulher saber que se trata de um efeito de menopausa e não de um sintoma de uma doença. Isto é muito difícil porque não há recursos didáticos e nem ferramentas suficientes, acessíveis, nem de fácil compreensão, que permitam que as pessoas se informem e possam distinguir entre aquilo que é um sintoma de uma doença ou aquilo que é a menopausa. Devemos ter em consideração que, de acordo com a literatura científica, médica, farmacológica e da área da psicologia, por exemplo, é estimado que sete em cada dez mulheres sofrem com os impactos da menopausa, sendo que três não sentem qualquer tipo de efeito que não seja deixarem de menstruar. A forma de lidar com isto passa pelo conhecimento e gerir cada efeito/sinal da menopausa que surge e impacta o corpo da mulher da forma mais conveniente possível, pedindo ajuda de mulher para mulher ou, no caso de não conseguir controlar, pedir ajuda ao seu médico. Se, pelo contrário, estiverem em causa sintomas de uma doença, só os médicos estão aptos a dar uma resposta adequada.

Quais os principais mitos associados à menopausa?

Um dos principais mitos associados à menopausa é que está associado ao envelhecimento. Hoje em dia sabe-se que o organismo da mulher envelhece mais tarde do que o seu sistema reprodutor. Por exemplo, o sistema digestivo, o sistema nervoso e o sistema auditivo, envelhecem na sua altura própria, muito depois de ter envelhecido o sistema reprodutor. Acredita-se que seja a natureza a cuidar das suas criaturas, uma vez que a gravidez é o processo fisiológico que mais esgota o corpo feminino. Se as mulheres tivessem capacidade de reproduzir até ao final da sua vida, provavelmente a sua esperança média de vida das mulheres não seria tão longa.

Outro mito é que se trata de uma doença. A menopausa é unicamente uma fase da saúde e vida reprodutiva das mulheres, que têm impactos que podem e devem ser geridos.

Outro mito, ainda, é que todas as mulheres sofrem com os impactos da menopausa. Não é verdade, pois há mulheres que não sentem nada. Conforme referido anteriormente, sete em cada dez sofrem efeitos e três não sofrem rigorosamente nada.

Outro mito é que a menopausa é só um assunto de mulheres. Hoje em dia sabe-se que, apesar de a mulher ser a protagonista uma vez que os impactos são no seu corpo, a menopausa tem impacto em toda a família, porque essas pessoas conseguem sentir quando a mulher não está bem. A menopausa é um assunto de todos e não só das mulheres, como a gravidez – é a mulher que engravida, mas essa criança tem um pai e uma família.

A menopausa ser um assunto que não deve ser abordado de forma explícita é outro mito. Não é verdade, pois quanto mais se esclarecer o que se passa e aquilo que se sabe sobre menopausa mais fácil será lidar com esta fase da saúde reprodutiva das mulheres. Trata-se de uma questão que envolve cerca de dois milhões e oitocentas mil pessoas só em Portugal, pelo que tem de ser encarado como um assunto de saúde pública.

Sente que as mulheres estão pouco informadas para esta nova fase das suas vidas?

Em Portugal, não existe informação sobre a menopausa, tal como anteriormente não existia informação sobre menstruação ou sobre questões relacionadas com a saúde da mulher. Hoje em dia temos a noção de que informação é poder, portanto quanto mais empoderarmos as pessoas com informação relativamente à menopausa mais contribuímos para o esclarecimento e para que as pessoas saibam gerir esses efeitos inerentes à sua menopausa.

Como deve ser encarada esta etapa?

Esta etapa da vida da mulher deve ser encarada como uma fase com características específicas, inserida na saúde reprodutiva da mulher. Ou seja, não deve ser encarada como uma doença, mas como uma fase que tem data para começar, características identificadas e cujos impactos, no caso de existirem, podem ser geridos, uma vez que há cuidados e tratamentos para quem precisa. Cuidados serão necessários para toda a gente e tratamentos só para quem precisa.

Acreditamos que quanto mais informadas estiverem as pessoas, melhor conseguirão lidar com aquilo que a menopausa implica, como por exemplo, alterar o estilo de vida e a alimentação – no fundo, aspetos que devíamos ter feito sempre, isto é, cuidar de nós de uma maneira que garanta a nossa saúde e bem-estar a nível psicológico e físico.

Muitas marcas têm lançado produtos de beleza especializados para a menopausa. Sente que as mulheres na menopausa devem optar por estes tipos de cuidados?

Sim. Algumas marcas têm partilhado comigo novidades relativamente à menopausa e nota-se que têm a preocupação de criar soluções específicas para a menopausa, uma vez que hoje em dia as mulheres exigem isso mesmo. À medida que vão percebendo que é uma fase que exige outro tipo de cuidados ainda mais precisos e direcionados, também vão demonstrando essa urgência junto das marcas, sejam estas de produtos de beleza ou de produtos farmacêuticos. As marcas com quem tenho contacto apresentam soluções de beleza, nomeadamente para o cabelo e para a pele. Confesso que é com muita esperança que verifico que as marcas de consumo em geral estão mais sensíveis à necessidade  de haver cuidados adequados a esta fase da vida da mulher, a fim de garantir que esta se sinta bem ou melhor do que antes.

Em relação aos cuidados médicos é exatamente o mesmo. É importante ter em conta que, quando deixam de menstruar, as necessidades das mulheres são diferentes e, por isso, os cuidados existentes devem ter em conta a especificidade da menopausa. Há cuidados médicos e farmacológicos específicos, cada vez mais estudados e seguros, que respondem cada vez melhor a esta fase da vida da mulher.

Existe um livro que se chama ‘Descomplicar a Menopausa’, do qual sou autora, que faz uma revisão bibliográfica de todas as matérias científicas publicadas e que convergem para a menopausa, tais como matérias relacionadas com cuidados médicos, farmacológicos, saúde mental, saúde física, ciências da nutrição, do desporto, entre outras. Esta obra, editada há cerca de um ano, resulta de uma revisão científica de um ginecologista especializado em menopausa e de uma psicóloga clínica e de saúde.

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