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Jeanine Cummins: “Acho que não me poderia ter tornado escritora sem ter escrito esse livro primeiro”

Começou a escrever quando era criança, afirmando ser a “única coisa em que tinha jeito”. Embora não lhe parecesse possível que alguém pudesse escrever livros para ganhar a vida,  Jeanine Cummins tem hoje quatro obras publicadas – “Terra Americana”, “A Rip in Heaven”,  “The Outside Boy” e “The Crooked Branch” – e é considerada uma autora best-seller. Convidada para participar no Book 2.0 como oradora no painel “Preconceitos Ocultos na Indústria Editorial Inclusiva”, Jeanine Cummins esteve em Portugal e a LuxWoman falou com a autora americana. 

Foi oradora no painel “Preconceitos Ocultos na Indústria Editorial Inclusiva”, inserido no evento Book 2.0 que decorreu em Lisboa nos dias 31 de agosto e 1 de setembro. Que preconceitos ocultos existem na indústria editorial?

Existem preconceitos ocultos em todos os sectores, e o mundo editorial não é diferente. Penso que uma das principais razões pelas quais a indústria editorial continua a debater-se com a inclusão é o facto de os guardiões (editores) continuarem a ser maioritariamente brancos. Nos últimos anos, tem havido um esforço editorial de boa fé para publicar vozes mais diversificadas, mas enquanto as pessoas que escolhem e editam os livros forem maioritariamente brancas, suspeito que os desafios editoriais se manterão. Precisamos de diversidade de cima para baixo.

Também continua a ser muito claro que há uma tremenda duplicidade de critérios para as mulheres escritoras e que estas são submetidas a um tipo de escrutínio biográfico que os escritores homens quase nunca encontram.

Que medidas devem ser tomadas para os eliminar?

Esta é a indústria mais criativa do mundo. Certamente que quando os editores efetuarem uma análise significativa deste problema, serão capazes de encontrar soluções criativas. Penso que o primeiro passo é reconhecer que o problema existe e que é real e generalizado. É o que estamos a fazer agora.

Como é que começou a escrever?

Comecei quando era criança, era a única coisa em que tinha jeito. Nunca conheci ninguém que fosse escritor e não me parecia possível que pudesse escrever livros para ganhar a vida. Comecei a trabalhar em editoras depois da faculdade porque pensei que era o mais próximo que podia chegar de ser um escritor. O resto da minha carreira foi e continua a ser uma enorme surpresa para mim. Não consigo acreditar que estou aqui.

O primeiro livro que lançou foi “A Rip in Heaven”. Porquê um livro de memórias?

Esse livro de memórias era a história de uma tragédia horrível que aconteceu na minha família quando eu era adolescente. Era uma carta de amor aos meus dois primos que foram assassinados, e era um esforço para resgatar a história (e a minha família) da imprensa, que estava a fazer um péssimo trabalho a contá-la. Acho que não me poderia ter tornado escritora (ou qualquer tipo de ser humano adulto bem sucedido) sem ter escrito esse livro primeiro. Precisava de o escrever e, depois de o fazer, pude começar o resto da minha vida.

Achava que este iria ter tanto sucesso?

Nem pensar! Pensei que ninguém o iria ler! Fiquei espantada com a resposta e com o apoio que recebi da minha maravilhosa editora e dos meus queridos colegas do sector.

“Terra Americana”, o seu último livro, retrata a viagem dos migrantes que tentam a travessia do México para os EUA.  Quanto tempo demorou este livro a ser escrito e como se preparou para o escrever?

Passei cerca de cinco anos a escrever “Terra Americana”, a partir de 2013. Comecei por ler tudo o que consegui encontrar sobre o assunto e, quando senti que tinha uma boa base, fui ao México para ver com os meus próprios olhos como eram as condições no terreno. Visitei abrigos para migrantes e orfanatos. Fiz voluntariado numa sopa dos pobres. Falei com muitos migrantes, bem como com muitos especialistas na matéria – os homens e mulheres que dirigiam os abrigos, académicos que estudavam a identidade transfronteiriça e os efeitos sociais e psicológicos da migração, ativistas dos direitos humanos, pessoas que documentavam abusos ao longo da fronteira, pessoas que deixavam água no deserto, etc. Aprendi imenso durante o tempo em que estive a fazer investigação e senti-me – e continuo a sentir-me – extremamente humilde, tanto pelas pessoas que empreenderam essa viagem horrível, como pelas pessoas que dedicaram toda a sua vida a proteger e apoiar as pessoas que fazem essa viagem. O que aprendi é que escrever um romance é praticamente o mínimo que uma pessoa pode fazer para tentar ajudar a esclarecer uma crise humanitária desta dimensão.

Sente que o seu livro teve impacto na forma como olham as pessoas para os migrantes?

Bem, esse é o sonho. Penso que causou um impacto na forma como alguns leitores pensam sobre os migrantes, e a razão pela qual penso isso é porque as pessoas escrevem e dizem-me isso todos os dias. Não sei dizer se essa mudança é significativa, significativa e duradoura. Se pode mudar a forma como fazem donativos ou se voluntariam ou votam, só posso esperar que sim.

Acusada de apropriação cultural, como enfrentou os comentários negativos?

Esse tem sido um elemento muito doloroso de um livro que, de resto, me faz sentir muito bem. Aprendi a manter essas acusações onde elas pertencem, ou seja, longe do meu coração. Eu sei porque é que escrevi este livro. Sei o esforço, a aprendizagem, o respeito e o amor que foram empregues na sua redação. E, em última análise, estou orgulhosa do resultado. No final, um romancista só tem de responder a si próprio.

Para quando podemos esperar um novo livro?

É essa a questão! Espero terminar um rascunho nas próximas semanas. Não faço ideia do que isso significará em termos de calendário de publicação, mas espero que seja mais cedo do que tarde!

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