Na semana passada, o pontapé de saída do Euro 2024 marcou o início de um dos maiores eventos desportivos do mundo, reunindo milhões de fãs e atletas em comemoração ao futebol. Mas, além da emoção e da paixão pela modalidade, este evento também apresenta uma oportunidade única para refletir sobre o papel crucial que o desporto pode desempenhar na promoção da sustentabilidade.
Se a leitora for adepta de uma equipa de futebol tal como eu (que embora não vá divulgar qual é, o facto de eu ser vimaranense já me pode denunciar), sabe o que é sentir aquele nervosismo de quando a bola tende a não entrar, a desilusão quando a nossa equipa sofre no último minuto ou aquela sensação boa de quando ganhamos um jogo e ficamos um pouco mais felizes nessa semana. Isto porque o desporto ultrapassa a parte racional e toca-nos na parte da emoção; leva-nos a sentir e a agir.
E já pensou como essa emoção pode ser uma ferramenta para construir um mundo melhor? O desporto, com seu poder de unir pessoas de diferentes origens e culturas, tem um potencial imenso para inspirar mudanças positivas e promover práticas mais sustentáveis.
Igualmente, os desportistas têm um papel importante como modelos de comportamento, principalmente nos mais novos. Creio que será fácil para qualquer um de nós acreditar que uma criança vá começar a poupar energia ou a reciclar lixo muito mais depressa se ouvir o seu futebolista favorito a dizer para o fazer, ao invés dos seus pais e professores que o repetem quase diariamente.
Compromissos reais
A importância da sustentabilidade no desporto está cada vez mais evidente e felizmente as equipas, enquanto entidades económicas e sociais, reconhecem o seu dever neste campo.
Já se foram os dias de gestos simbólicos, como caixotes de lixo verdes nos estádios, serem considerados como medidas suficientes. Os esforços modernos de sustentabilidade exigem um planeamento meticuloso e uma avaliação rigorosa baseada em dados.
Os organizadores do Euro 2024, por exemplo, estão a implementar uma estratégia abrangente de sustentabilidade. Isto inclui métricas para acompanhar tudo, desde o consumo de energia e geração de resíduos até viagens de fãs e inclusão social. Trata-se de muito previamente mapear todas as potenciais fontes de impacto ambiental e elaborar soluções reais para os mitigar.
E também este ano, os Jogos Olímpicos 2024 serão os primeiros a relatar oficialmente os impactos ambientais, sociais e nos direitos humanos.
Para além do ambiente
Contudo, a luta das entidades desportivas por um mundo sustentável vai além do ambiente. Igualdade e inclusão são aspetos igualmente cruciais.
Os adeptos de uma equipa devem poder viajar para qualquer recinto, torcendo pelos seus atletas com paixão, mas sem medo de insultos raciais ou discriminação. E cabe aos organizadores dos eventos desportivos garantir essa segurança.
Também no desporto feminino, é essencial garantir um ambiente seguro e respeitoso. Desde igualdade de oportunidades até instalações e ambientes de prática livres de assédio, as mulheres merecem competir sem medo de agressão ou preconceito.
Outras modalidades, para além do futebol, também já começam a ter o seu papel em alertar para questões climáticas. A Fórmula E (um tipo de corridas automóveis feita somente com veículos elétricos), por exemplo, para além de servir como palco de teste para novas tecnologias mais verdes, mostra como essas mesmas tecnologias podem continuar a ter grande performance.
Agir enquanto comunidade
Mais importante ainda do que inovações tecnológicas, é vermos que a grande inovação que tem vindo a acontecer cada vez mais é a nível da comunidade. É o entendermos que equipas, patrocinadores, público e governos são todos parte da mesma comunidade e é juntos que se tem de agir.
Devemos pegar nas questões de sustentabilidade como um todo e direcioná-las a todos os os diferentes membros.
Clubes amadores podem ser o centro das iniciativas locais, promovendo a inclusão e a consciência ambiental. Os adeptos podem escolher opções de viagens sustentáveis e adoptar posturas anti-racismo e anti-violência. Os organizadores têm obrigação de cobrir todas as questões de segurança e impacto ambiental dos seus eventos desportivos.
Ao trabalharmos juntos como uma comunidade, podemos aproveitar o imenso poder do desporto para criar um efeito cascata positivo, que se estende muito além do barulho da multidão.
Lembre-se do que disse Nelson Mandela: “O desporto tem o poder de mudar o mundo”.
Artigo de Opinião de Sara Celina