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Entrevista: Joana de Verona

A atriz luso-brasileira está a conquistar o Brasil na novela da Globo “Éramos Seis”. Do outro lado do Atlântico, onde está a viver há mais de seis meses,   Joana de Verona fala-nos sobre um dos mais importantes anos da sua vida profissional. Que foi também o ano em que também entrou nos 30. Sem medos!

 

Está no ar, no Brasil, em três projetos diferentes: na telenovela Éramos Seis da Globo, na novela Ouro Verde, na Band e na minissérie série Santos Dumont no HBO. E ainda tem para estrear o filme Tinnitus. 2019 é um ano inesquecível na sua carreira?

Um ano marcante sem dúvida, de muitas estadias profissionais noutros lugares, de muitos encontros criativos gratificantes que resultam em trabalhos especiais que guardo com muito carinho. Sinto-me bastante grata e feliz.

Já tinha tido convites da Globo mas só agora se concretizou. Foi na altura certa e no projeto certo?

Sim, houve conversas anteriormente para outros projetos, mas acabou por não ser possível efetivar. Na prática foi um retorno à Globo, embora eu só tivesse feito uma breve participação na minissérie “Presença de Anita” aos 12 anos, aliás o meu primeiro trabalho em televisão! Fazer um personagem com peso na dramaturgia em fase adulta, foi agora. Sim, tudo chega no momento apropriado. No projeto certo também, pela sua conceção e pela personagem. A Adelaide é contagiante, brevemente terei o desafio de pilotar um avião. Ela é inspirada em Anésia Pinheiro Machado, a primeira mulher a realizar um voo a solo em território brasileiro, conhecida no mundo pela suas causas feministas também, e que, curiosamente, conheceu Santos Dumont e foi por ele condecorada. A propósito estou muito orgulhosa do trabalho que a brilhante equipa fez nesta série de época ” Santos Dumont” para a HBO Brasil, dirigida pela Pindorama Filmes. É um trabalho de excelência, uma história incrível contada de forma extremamente sensível.

A feminista Adelaide, de Éramos Seis, é uma personagem à sua medida? Feminista, à frente do seu tempo… Encontra nela características suas, formas iguais de ver a vida? Também é feminista?

Gosto muito da Adelaide, da sua energia intensa e espírito livre, é à minha medida sim. Estudei bastante para compor o rico universo dela, divirto-me com ela. Para mim é uma grande homenagem a várias mulheres transgressoras de espírito forte que marcaram a história. Eu alinho-me com pensamento e posicionamento feminista sim.

Apesar de ter nascido e vivido no Brasil, foi fácil ou difícil a questão do sotaque? Teve aulas de dicção, por exemplo, ou não foi preciso?

Acabei de filmar Tinnitus uma longa-metragem em São Paulo onde também falava com o sotaque brasileiro, que é familiar para  mim, no entanto é importante continuar a prática para solidificar o trabalho, por isso tive aulas com uma preparadora vocal sim, uma fonoaudióloga.

E também filmou “Tinnitus”, de Gregório Graziosi, que estreia em 2020. Pode falar-nos um pouco deste projeto e do desafio que foi interpretar a atleta Marina, que sofre um acidente e fica com um zumbido constante num ouvido? Exigiu muita preparação física da sua parte? Muitos desafios?

Muitos. Creio que foi o projeto mais exigente fisicamente para mim, pelo menos em cinema. Ela tem uma questão física perturbadora, presente no filme inteiro, é atleta, com espírito e personalidade de atleta de alta competição. Tive aulas de posicionamento corporal nas plataformas de 5 metros de salto ornamental. Mantive uma alimentação específica na tentativa de ter um corpo mais forte, resquícios do atletismo no corpo dela. Aprendi a fazer apneia. Tive aulas para aprender a nadar como uma sereia, com cauda e a filmei dentro de um aquário de água salgada e gelada com raias, peixes e tubarões, com um cinto de 4 quilos à cintura durante as cenas sub aquáticas. Filmei constantemente dentro de água sempre com muito frio, pois o inverno em São Paulo foi rigoroso. Foi muito desafiante.

É luso-brasileira: nasceu no Brasil, veio para Portugal com 9 meses e voltou a viver no Brasil dos 10 aos 13 anos. Sente-se mais portuguesa ou mais brasileira? Ou de lado nenhum?

Sentir mesmo, como pertença patriótica, nacionalista , não sinto. Sinto-me fruto de duas culturas, de ambos os lugares, mas não propriamente de um lugar em específico.  Embora tenha consciência de que a minha base é em Lisboa. Porém isso em nada impede o habitar com frequência outros países e outras culturas.

Como tem sido viver no Brasil politicamente agitado de Bolsonaro? A sua visão da política brasileira mudou por viver ai? Apesar de imaginar que, enquanto lusa brasileira siga atentamente a realidade política brasileira…

O estar aqui faz-me estar muito mais próximo das questões, entendê-las por dentro. Claro que quando estou noutro país leio e estou a par do que se passa politicamente mas é diferente. Sempre que aqui estou seja qual for o governo, são sempre períodos agitados e de rápidas mudanças. O Brasil é um país muito imprevisível nisso, pela dimensão e complexidade da sua estrutura. Obviamente que esta gestão política salta à vista em tamanhas incongruências e decisões absolutamente incompreensíveis. É um período conturbado e perturbador, claro que a história é cíclica, e espera-se sair deste contexto, mas são tempos difíceis, em que as pessoas não sabem ao certo o que esperar, com o que contar.

Quando terminar a novela tenciona regressar a Portugal? Já tem algum projeto? Ou vai ficar no Brasil e apostar numa carreira aí?

Irei voltar para Portugal para o espetáculo “Mappa Mundi”, uma co-criação minha com o Eduardo Breda que vai estrear em Maio no Porto no Festival FITEI e fazer digressão em alguns países do norte Europeu. E voltarei também com o espetáculo “Ensaio para uma cartografia” de Monica Calle.

 

Tem muitos cuidados de beleza ou é descontraída? Que cuidados não dispensa?

Sou descontraída. Tento estar em contacto com a natureza e com alguma atividade física, seja dançar, nadar ou pilates, mas são coisas que me fortalecem. Fora isso, tenho a velha prática de limpar e hidratar a pele e a tentativa de beber muita água, que nem sempre é fácil.

Pensa mais na forma como quer envelhecer agora que chegou aos 30? A imagem é importante para um ator e também um instrumento de trabalho. Acha que vai saber lidar bem com esse envelhecimento em frente ao ecrã?

Não penso muito nisso ainda, mas creio, ou espero lidar bem com isso, se não estou tramada (risos). Amadurecer faz parte, é inevitável. Lidar mal com isso é não aceitar a natureza, o inevitável, e uma perda de energia com algo que não tem volta a dar, portanto creio que o melhor será aceitar da forma mais pacífica isso. Mas como disse, ainda não penso muito nesse assunto, seria “sofrer” por antecipação.

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