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Tomás de Castro Neves: “Era a criança que estava sempre a desenhar e a pintar, e nunca deixei de o fazer”

O artista esteve à conversa com a LuxWoman sobre a sua carreira 

Apaixonado pela arte desde cedo, Tomás de Castro Neves “era a criança que estava sempre a desenhar e a pintar”. Embora tivesse enveredado pelo ensino artístico, acabou por se licenciar em arquitetura. Profissão que exerceu, mas acabou por deixar para se dedicar àquilo que sempre fez e quis fazer: desenhar e pintar. No centro da sua arte, está o corpo humano. Em tons de azul, verde e vermelho, não pretende com este “representar uma entidade específica, mas uma ideia de homem, de corpo, de nudez”. Sabe sempre qual é o ponto de partida de cada peça, mas não consegue garantir qual será o resultado final. É, por isso, talvez, que até o próprio se surpreenda com os seus quadros.

Como é que começou a sua paixão pela arte? Vem desde cedo? 

Sou apaixonado por arte desde sempre. Era a criança que estava sempre a desenhar e a pintar, e nunca deixei de o fazer. Este impulso criativo foi algo que acabou por motivar muito o meu desenvolvimento e acabei por enveredar pelo ensino artístico, até me formar em arquitetura. Apesar disso, sempre tive uma predileção pelas artes plásticas, e mais especificamente pelo desenho e a pintura. Mesmo enquanto arquiteto, a minha paixão sempre passou mais por este lado da criação artística. Eventualmente fez sentido deixar a arquitetura para me dedicar exclusivamente àquilo que é, no fim de contas, o que sempre fiz e quis fazer: desenhar e pintar.

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No que é que se inspira quando pinta? 

O corpo humano sempre foi um dos principais focos do meu desenho, e até nas minhas fontes de inspiração. Lembro-me vividamente da primeira vez que vi os trabalhos da Paula Rego, Picasso ou Caravaggio. Para mim, a representação do corpo sempre foi o veículo mais forte de transmitir uma emoção, e de forma inconsciente o corpo passou a ser uma parte dominante da minha linguagem. É objeto de desejo, de consciência, mas também de dor e alegria. Portanto manipulo os corpos, por vezes até de formas muito pouco realistas ou convencionais, para transmitir emoções ou ideias que retiro do meu quotidiano, de algum texto ou imagem.

O que nos contam os seus quadros? O procura transmitir com a sua arte?

Na minha prática procuro, antes de mais, trazer o corpo nu para um plano conceptual, não pretendo representar uma entidade específica, mas uma ideia de homem, de corpo, de nudez. Olho para estes corpos como para um bailarino de dança contemporânea, que expressa algo através do movimento, mais do que através de uma identidade. Os meus quadros estão sujeitos a interpretações individuais e a minha interpretação não só varia com o tempo como, por vezes, também me surpreende. Sei qual é o ponto de partida de cada peça, o que motiva os primeiros traços, mas não consigo garantir que tenha um final fechado. Há um aspeto de reconciliação no que faço, com o corpo masculino, com a homossexualidade, mas também com o preconceito e a nudez. A sensibilidade no masculino, o toque, a introspeção, são essenciais no meu trabalho e penso que são também a porta de entrada para quem o aprecia. Depois dos movimentos raciais, feminista e LGBTQ+ , a próxima revolução social poderá ser a da masculinidade, que é, de momento, o grupo mais invasivo e tóxico. É também o grupo com maior taxa de suicídio. Portanto, essa reconciliação através da arte passa também pela minha experiência e é, para mim, uma forma de auscultação e de autoconhecimento.

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Nos seus trabalhos, há uma paleta sempre presente. O representam estas cores?

A cor dialoga sempre com a ideia de cheios e vazios, que aporto da arquitetura. É importante para mim desligar os meus corpos de um espaço específico para que vivam verdadeiramente enquanto conceitos. Muitas vezes acabam a flutuar e a ser eles próprios os objetos de significação. As cores que escolho impactam a forma como os objetos são apreendidos. Os corpos azuis, verdes ou vermelhos afastam-nos da realidade, ao passo que um corpo bege ou castanho nos remete para algo mais familiar. Nos últimos anos desenvolvi uma grande predileção pelo azul. É uma cor que me lembra o México, onde vivi durante um ano, e que tanto impactou o que faço agora, mas é também uma cor com particularidades interessantes tanto históricas como semióticas. Associo o azul à consciência, à intenção abstrata, e até ao vazio, como o céu. Por isso, é-me intuitivo utilizar o azul para conceptualizar o corpo. O vermelho aporta-me à carne, ao sangue. Também o represento, mas sempre com a consciência de que é de um outro corpo que estou a falar. O verde fala-me sobre o mundo natural, o exterior ao corpo ou ao que de mais terreno existe nele.

Como é o seu processo criativo? 

Tenho várias formas de trabalhar, dependendo do tipo de projeto em que estou a trabalhar, mas toda a minha prática parte do desenho. É importante sentir-me conectado para conseguir fazer algo de forma consciente. Quando existe essa verdade, saem os melhores desenhos e conceitos. Se, por vezes, há essa ligação e me surge uma imagem imediatamente, noutras ocasiões, há um processo de tentativa e erro. Depois começo a dar densidade a essa imagem, penso no que ela significa, em cor, em material. Posso fazer um quadro maior a partir dela, uma pintura mais pequena ou assumir que será sempre um esquiço.

Tomás Castro Neves

Tomás de Castro Neves

 Até hoje, qual foi o trabalho mais desafiante que fez? 

Terminei recentemente um conjunto de quatro peças a que chamei “Coordenadas”. São quatro telas quadradas que serão expostas formado as faces de um cubo. Nelas estão pintadas as quatro vistas de um conjunto de corpos masculinos embrulhados entre si. Para mim foi interessante criar esta ligação entre as vistas do desenho técnico ou de arquitetura e os meus corpos que brincam à bidimensionalidade. Há também uma ambiguidade na relação entre eles, dentro de cada tela e entre as telas. Penso que são, ao mesmo tempo, espaço e alvo de consciência. Este conjunto estará presente na minha próxima exposição, CONTACTO, dia 28 a 30 de Março, no LX factory (podem encontrar todas as informações na minha página de Instagram). 

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Se tivesse de descrever a sua arte em uma palavra, qual seria?

Corpo. Esta é a origem de toda a significação, é o nosso instrumento mais primordial e através do qual nos relacionamos com toda a realidade. É através dele que nutrimos as necessidades mais básicas, mas também que podemos conceber a abstração e o espiritual. É a coisa mais referencial que existe, e também por isso, o objeto da minha arte.

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Onde podemos encontrar a sua arte?

O Instagram (@tomascastroneves) é a plataforma onde partilho todo o meu trabalho e onde podem facilmente contactar-me. O meu trabalho pode ser adquirido na minha loja online, mas também em Lisboa, na IconShop, Apaixonarte, e PuraCal.

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