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Como integrar a medicina tradicional chinesa na maternidade?

Não se trata de substituir o indispensável acompanhamento médico do ginecologista/obstetra mas sim de ganhar um aliado durante a gravidez e o pós-parto

Enjoos, náuseas, dores lombares ou retenção de líquidos podem ser bastante incómodos durante a gravidez. A medicina tradicional chinesa ajuda a tratar esses sintomas durante a gravidez mas não só. O acompanhamento pode começar na fase pré-concecional, ajudando o corpo a preparar-se para uma gravidez saudável. O espaço de saúde e bem estar Essence prime care criou o primeiro programa de medicina complementar multidisciplinar em Portugal que abrange a fase pré-concecional, as fases de gestação e preparação para o parto mas também a recuperação pós-parto. Conta com enfermeiras de saúde obstétrica, doulas, psicólogas, especialistas de medicina chinesa, terapeutas de massagem e estética, bem como uma especialista em exercício para mães (da conceção até ao pós-parto). Filipa Teles, especialista em medicina chinesa, é uma das responsáveis por este projeto e explica-nos o conceito.

Em que consiste, em traços gerais, este programa de maternidade?

O programa de maternidade inicia-se na fase pré-concecional. As pacientes podem procurar-nos cerca de 6 meses ou um ano antes de engravidar para preparar o seu organismo para uma conceção saudável. Algumas delas já se preocupam com a questão da dificuldade de engravidar porque têm essa situação clínica. Mas cada vez mais estamos a entrar numa vertente de saúde e bem-estar global e ainda bem porque assim conseguimos trabalhar na essência do próprio indivíduo e melhorá-la antes de gerar um novo ser. Depois acompanhamos a grávida durante toda a gravidez e durante o pós-parto. Sempre ao encontro dos objetivos terapêuticos do paciente. Também temos o curso de pré e pós parto e parentalidade intuitiva e consciente – é o único curso em Portugal que engloba esta componente da parentalidade intuitiva e consciente, e ainda tem modulos de biocosmética (cuidados mamã e bebé), dietética e fraldas reutilizaveis.

Quando fala em preparar o organismo para a conceção, fala de que aspetos concretamente?

Tudo começa com uma consulta de diagnóstico de medicina chinesa. Nessa avaliação, verificamos os desequilíbrios energéticos do paciente. E a partir daí fazemos prescrição à base de fitoterapia/suplementos naturais, aromaterapia, acupuntura, massagem terapêutica… E se efetivamente existir alguma questão que justifique outro especialista, a nossa equipa é multidisciplinar e trabalhamos de forma integrada por isso temos fisioterapeuta de pavimento pélvico, psicóloga especializada em parentalidade consciente, enfermeiras especialistas em saude materna e obstetrica, doula… Existem também outras valências como a nutrição e na parte da massagem o nosso terapeuta também engloba a parte estética. O nosso objetivo é ir ao encontro do paciente. Imagine que temos uma paciente que precisa de emagrecer antes de engravidar porque está com excesso de peso ou essa situação está a impedir uma conceção mais rápida e eficaz, acabamos por ajustar todo o plano terapêutico em prol de atingir os objetivos pretendidos.

E como é feito o acompanhamento durante a gravidez?

Esse acompanhamento é único em Portugal. Estamos a falar de um programa que não visa apenas retirar sintomas indesejaveis da gravidez como enjoos, naúseas, dores lombares ou ciáticas, retenção de líquidos, azeia.. Conseguimos atuar em todas essas áreas mas também atuamos em questões psicológicas, emocionais. Tentamos ainda favorecer a vinculação intrauterina e manter a mulher muito enraizada e consciente de todo o processo da gravidez. E se efetivamente existir algum sintoma que esteja a incomodá-la, atuamos. Mesmo em situações de perigo de gravidez, como por exemplo um aborto espontâneo, uma retenção placentária, uma pré-eclampsia, temos tido resultados muito positivos. Muitas das nossas pacientes já nos procuram em fase final de gestação e muitas vezes porque não conseguem virar o bebé ou porque querem preparar-se para o parto. Essa preparação engloba também um trabalho com a nossa fisioterapeuta de pavimento pélvico, que trabalha o períneo para garantir o mínimo de laceração e risco de episiotomia. Muitas das grávidas que tratamos não têm qualquer laceração durante o parto expulsivo e melhora, inclusivé, a forma como lidam com as contrações, a gestão da dor… Conseguimos trabalhar num espectro muito amplo.

Este acompanhamento substitui o acompanhamento médico tradicional de uma grávida?

Jamais. Aliás, nós temos sempre que garantir que a paciente esta a ser seguida pelo seu ginecologista/obstetra. Mesmo quando uma paciente decide ter um parto domiciliar, nós temos de garantir que ela está informada e que vai estar a ser acompanhada por profissionais de saúde. Nós não somos médicos, somos especialistas me medicina tradicional chinesa.

Ainda há algum medo por ser uma medicina alternativa?

Não sinto de maneira nenhuma medo ou receio. Talvez a pergunta que mais nos fazem é se colocamos as agulhas na barriga. Por norma só o fazemos na fase final, ou seja, depois das 38 semanas, quando o objetivo é uma preparação para o parto. E há algo muito importante de desmitificar: não há forma de a medicina tradicional chinesa ou a acupuntura induzir o parto. Nós não conseguimos induzir um parto! O que fazemos é preparar o organismo para quando o bebé estiver pronto. Se nós sabemos que a acupuntura e a medicina tradicional chinesa beneficiam e equilibram o organismo de forma harmonizante, sabemos que traz essa energia ao organismo, de responder quando for a hora.

Estão presentes durante o parto?

Não mas já foi algo que nos foi proposto várias vezes pelas pacientes. Nunca aconteceu até à data porque não podemos exercer em bloco hospitalar.

E no pós-parto o que fazem? Está direcionada para a recuperação do corpo da mulher?

Essa é a nossa preocupação secundária. Acima de tudo queremos garantir que um dos trabalhos que fizemos durante a gravidez – possibilitar a amamentação – é bem-sucedida. Queremos que a mulher tenha esta possibilidade, que exista leite e em abundância. Essa é a nossa primeira preocupação porque efetivamente o bebé deve ser colocado na mama na primeira hora de vida. Queremos garantir uma recuperação do parto a nível de energia e de sangue porque perdemos imensa energia nesse processo. Queremos garantir que a mulher não entra em nenhum processo anémico, que não se sente demasiado fatigada e evitar também a questão do baby blues e da depressão pós parto. Mas muitas destas coisas já são trabalhadas em prevenção durante a gravidez. Se existirem situações de mastite, fissuras nos mamilos, falta de apetite, dores de cabeça ou algum tipo de desconforto, elas também são discutidas em consulta e nós adaptamos. Porque cada paciente é um paciente.

Acompanham a mãe até que idade do bebé?

É uma excelente pergunta porque isso desmistifica logo uma questão: quando é que o pós-parto termina? É muito ambíguo. Está designado que a fase de pós parto imediato é até às seis semanas após o parto, quando se efetua uma consulta de pós parto com a obstetra. Mas existe bibliografia que já fala sobre a importância do quarto trimestre (3 meses após o parto) tanto para a mãe como para o bebé e que se assemelha a uma vinculação tão especial quanto aquela que existe no primeiro trimestre de gravidez. Tenho que mencionar que no puerpério, este pós-parto, a parte mais crucial da recuperação de uma mãe e da nutrição de um bebé, são os primeiros 40 dias após o parto.. mas um pós parto só termina, na verdade, entre os 12 a 24 meses após o parto. Se soubermos isto compreendemos o porquê de tanta fadiga. O nosso filho já anda e nós ainda nos sentimos cansadas. Porque a vida não parou para nós. Esta questão dos 12 aos 24 meses é crucial para entendermos o quanto o nosso organismo ainda precisa de se recuperar nesse período.

Essence

Falou no fim do pós parto. Qual é o acontecimento que encerra essa etapa?

A coisa mais importante é o bebé já ter parado de amamentar. Porque isso significa que já suprimos todas as necessidades do nosso filho. E deve existir um gap entre o aleitamento do primeiro filho e o do segundo. A mãe tem de se nutrir também a ela. A mãe é feita para originar uma nova vida, ele vai priorizar o filho mas com isso vai sentir-se mais cansada e se calhar vai pagar essa fatura daqui a uns anos. Há várias questões a que temos de responder antes. Será que já dormimos? Será que sentimos harmonia no lar? Vamos ter tempo para o primeiro filho quando engravidarmos? Essa disponibilidade tem de ser sentida. E é preciso também falar da questão da menstruação. É importante que a mulher já tenha menstruado por ela mesma, sem pílula.

Porque é que sentiram necessidade de criar as mommy talks?

Elas nasceram por causa das imensas dúvidas que nos chegavam ao consultório através das mães, das familias. E as dúvidas que eu tenho são as dúvidas que, provavelmente, outra paciente vai ter. Por isso, a reunião, a partilha e a reflexão com os especialistas é fundamental. As mommy talks existem em três formatos: um de conferência em clínica, em modo workshop em que fazemos partilhas em experiências e nos juntamos com especialistas para tirar as duvidas das famílias, a ajudá-los a ultrapassar os desafios; num outro formato, as mommy talks existem em canal de youtube e podcast desde janeiro e por fim temos o evento, cuja primeira edição foi em outubro de 2019 e que este ano será já a 16 de Maio!

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