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Dermatite atópica em idade pediátrica

A dermatite atópica (DA) é a doença inflamatória crónica da pele mais comum em todo o mundo, com uma prevalência estimada de 10-20% em crianças e 7-10% em adultos. Tem habitualmente um início precoce em que até 60% dos casos surgem no primeiro ano de vida e até 85% antes dos 5 anos.

A etiologia desta dermatose ainda não se encontra completamente esclarecida. Reconhece-se atualmente como uma doença multifatorial altamente complexa, com componente genética fortemente influenciada por diversos fatores de imunidade e ambientais.

É uma dermatose que se caracteriza pela presença de manchas vermelhas, descamação e comichão intensa, com uma distribuição simétrica e característica que se acompanha, por vezes de escoriações, fissuras e exsudação. Salienta-se ainda que a esta patologia se associam frequentemente comorbilidades atópicas (asma, rinite alérgica, as alergias alimentares) e não atópicas (patologia psiquiátrica, infeções).

Apesar de não existir mortalidade associada a esta condição, existe uma elevada taxa de morbilidade com repercussão a vários níveis: económico, psicológico, social e familiar. Do ponto de vista da criança, esta dermatose pode impor consequências únicas, profundas, duradouras, irreversíveis, que nem sempre se correlacionam diretamente com a gravidade da doença e que serão tanto mais relevantes quanto mais tempo ela persistir. Destacam-se as alterações de humor (25% desenvolvem sintomas depressivos), da qualidade de sono (84% referem alterações do sono devido ao prurido), o absentismo escolar, os déficits de aprendizagem e a interferência direta na maioria das atividades do quotidiano (como na escolha do desporto ou na escolha do vestuário que melhor esconde as lesões).

Do ponto de vista parental, tratar de uma criança com dermatite atópica moderada a grave implica uma enorme disponibilidade de tempo (absentismo laboral), desgaste psicológico e investimento financeiro. Não raramente os cuidadores experimentam sentimentos de frustração e impotência face à recorrência da dermatose, ansiedade e angústia face ao sofrimento do doente e incerteza quanto ao seu futuro.

A DA é ainda uma dermatose sem cura conhecida, mas muitos progressos têm sido feitos do ponto de vista do tratamento. Formas ligeiras de doença (80% casos) são facilmente controladas de forma segura e eficaz, cumprindo as medidas gerais e recorrendo, quando necessário, à terapêutica tópica anti-inflamatória. São, sem dúvida, as formas graves de doença que representam o maior desafio terapêutico. Durante muitos anos, a terapêutica sistémica limitava-se aos imunossupressores convencionais com eficácia limitada, elevado risco de toxicidade e ausência de estudos que validassem e orientassem a utilização da maioria destes fármacos em crianças (todos usados off-lable).

Felizmente, a compreensão da fisiopatologia da doença levou a que nos últimos anos se verificasse uma verdadeira revolução nesta área terapêutica. O reconhecimento da via Th2 como a principal via envolvida levou ao desenvolvimento de vários fármacos inovadores (biológicos – dupilumab e tralocinumab – e inibidores da via JAK-STAT – baricitinib, abrocitinib, upadacitinib) que permitem o tratamento mais precoce, mais seguro, mais eficaz e prolongado, de forma a reduzir o impacto que a DA tem na qualidade de vida dos doentes. No entanto, apenas um destes fármacos se encontra aprovado também em crianças (a partir dos 6 meses de idade) – o dupilumab.

Atualmente são amplamente reconhecidas diferenças entre adultos e crianças com dermatite atópica a vários níveis (fisiopatológico, genético, de microbioma e até de impacto na qualidade de vida e resposta aos tratamentos). É certamente mais fácil conduzir estudos em adultos, contudo, crianças não são “pequenos adultos” e os resultados dos ensaios clínicos em adultos não devem ser extrapolados para esta faixa etária. Assim, é fundamental a existência de fármacos estudados e aprovados em idade pediátrica para uma escolha terapêutica mais assertiva e personalizada.

 Artigo de Opinião de Maria João Cruz

Assistente Hospitalar Graduada do Centro Hospitalar e Universitário de São João

Docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

Dra. Maria Joao Cruz

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