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Em Portugal, cerca de 800 mil pessoas sofrem de Doença Renal Crónica

Hoje, dia 10 de março, assinala-se o Dia Mundial do Rim, uma data que nos parece manifestamente oportuna para falar sobre a Doença Renal Crónica (DRC).

Estima-se que, em Portugal, esta doença afete cerca de 800 mil pessoas, e que existam cerca de 16 mil insuficientes renais. Portugal apresenta ainda a taxa de prevalência da doença renal crónica mais elevada da Europa, e é também o país europeu com a maior taxa de doentes renais crónicos a fazer hemodiálise.

Globalmente, prevê-se que a DRC se torne na quinta causa mais comum de morte prematura até 2040, o que realça a necessidade de, por um lado, aumentar o conhecimento da população sobre a doença, para a qual existem hoje mais tratamentos, e por outro, sensibilizar para a importância de um diagnóstico precoce e tratamento adequado, devendo o doente procurar ajuda junto de um especialista.

Para percebermos melhor esta doença e o seu impacto, falámos com Edgar Almeida, Presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia.

Dr. Edgar Almeida

Dr. Edgar Almeida

O que é exatamente a Doença Renal Crónica?

A doença renal crónica (DRC) é uma fase comum de muitas doenças renais, em que os rins sofrem um processo de fibrose (‘cicatrizes’), que se caracteriza por perda das capacidades funcionais dos rins e também pela sua natureza progressiva. Isto significa que, nesta fase, as doenças renais que evoluem para a DRC, progridem em direção a um momento em que se torna necessário iniciar um tratamento substitutivo renal, sendo os mais conhecidos, a hemodiálise, a diálise peritoneal e a transplantação renal.

Esta doença preocupa-nos porque os dados de que dispomos indicam que o número de pessoas a iniciar em cada ano (incidência) e a fazer estes tratamentos em Portugal (prevalência) são dos mais elevados da Europa.

Por outro lado, temos a perceção de que a prevalência do mau controle dos fatores de risco para a DRC também é mais elevada em Portugal, nomeadamente no que diz respeito ao controlo da pressão arterial, da diabetes, do excesso de peso, do tabagismo, etc. A estes fatores acresce o gradual envelhecimento da população portuguesa. Embora o envelhecimento possa resultar do aumento da esperança de vida, seria importante que estes anos adicionais não se associassem à perda da qualidade de vida que, inevitavelmente, se associa aos tratamentos substitutivos renais.

A que sintomas devem estar as pessoas atentas?

A DRC, nas suas fases iniciais tem poucas manifestações específicas associadas. Aliás, as manifestações que surgem podem ser explicadas pelas comorbilidades associadas (como a diabetes, a hipertensão arterial ou a insuficiência cardíaca) e a complicações comuns, como a anemia. Nas fases mais avançadas podem surgir edemas (‘inchaços’) dos membros inferiores, cãibras, etc. Do ponto de vista prático, quem tem algum dos fatores de risco que referi, deve questionar o seu médico assistente sobre o envolvimento renal que poderá ser detetado por análises do sangue e da urina e por ecografia renal e, surgindo dúvidas, encaminhando para o médico nefrologista.

É de extrema importância um diagnóstico precoce?

Embora não seja curável, é possível, em muitos casos, atrasar a evolução da doença de modo a protelar o momento em que pode ser necessário um tratamento substitutivo renal. Assim, as pessoas que tenham um ou mais dos fatores de risco que referi anteriormente devem preocupar-se com a saúde dos rins junto do seu médico assistente.

Que comportamentos devem as pessoas adotar para prevenir esta doença?

As pessoas em geral devem adotar comportamentos de vida saudável: cuidados com a alimentação, particularmente evitando a comida salgada (diria, até, educando o seu paladar para uma alimentação com pouco sal), o excesso de hidratos de carbono e as gorduras, aumentando o consumo de vegetais, legumes e fruta; beber água (entre 6 a 8 copos de água por dia); parar de fumar; fazer exercício físico regular e controlar o peso. Para quem já tem doença renal crónica, deverá ouvir os conselhos do seu médico, pois algumas destas indicações poderão ter de ser ajustadas em função da fase em que se encontram e das comorbilidades.

Que tratamentos existem?

Os tratamentos que existem dirigem-se ao controlo dos fatores de risco já referidos – controlo da diabetes, da hipertensão, do colesterol, etc. Nas fases mais avançadas poderão ser necessários tratamentos para algumas das complicações associadas como medicamentos para corrigir a anemia ou para corrigir a deficiência em vitamina D. Quando os rins entram em falência teremos de considerar as terapêuticas substitutivas renais já anteriormente referidas.

Que impacto é que esta doença tem nos doentes e nos familiares?

O principal impacto surge com a perceção da natureza progressiva da doença e da possibilidade de ter de iniciar um tratamento substitutivo renal. A consciencialização deste facto tem repercussões sobre a saúde mental, o que deve merecer atenção médica. Os tratamentos de hemodiálise limitam a mobilidade uma vez que as pessoas têm de se apresentar na clínica pelo menos 3 vezes por semana. Por outro lado, a diálise peritoneal, embora seja um tratamento domiciliário, obriga a uma exposição diária ao tratamento com necessidades logísticas próprias. Finalmente, o doente transplantado é o que tem a vida mais próxima do que era anteriormente ao início do tratamento, embora as pessoas estejam sujeitas a um rigoroso cumprimento do tratamento imunossupressor que aumenta o risco de infeção de neoplasias.

Por todas estas razões, podemos dizer que não há nada melhor do que ter os nossos rins funcionantes e saudáveis!

O sistema de saúde português está preparado para ajudar estes doentes?

Em termos de oferta de consultas de Nefrologia e de clínicas de hemodiálise/diálise peritoneal e transplantação, o país está bem equipado de recursos no sistema público ou no privado. O problema, no entanto, reside na disponibilidade de recursos nos cuidados de saúde primários, a primeira linha de intervenção para o diagnóstico precoce e a primeira intervenção na deteção da doença renal, uma vez que sabemos que muitos portugueses ainda não têm um médico de família.

O que é que deve ser desmistificado em relação a esta doença?

A quantidade de urina – não se espere pela redução do volume de urina para ficar alerta para a redução da função renal. Na grande maioria das situações, as pessoas com insuficiência renal (com exceção das que fazem diálise) continuam a urinar ‘normalmente’.

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