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Mulheres no palco da liderança: o desafio dos estereótipos

Enquanto mulher e membro do top management de uma empresa que conseguiu vencer num ambiente dominado pelos homens, conheço bem os desafios associados ao simples facto de ser do sexo feminino. Não foram poucos os obstáculos que tive de enfrentar e que sei que são partilhados por inúmeras outras mulheres: desde o viés de género até às expectativas culturais, que definiram um papel para a mulher que exclui o de liderança. No entanto, cada desafio que enfrentei serviu apenas para me dar mais força e perceber que as mulheres devem trabalhar na sua auto confiança e levantar o braço a cada oportunidade que possa surgir numa empresa. Uma experiência que serviu para me capacitar no sentido de mostrar que as mulheres têm não apenas o direito, mas sobretudo a capacidade de liderar com excelência em qualquer setor.

Na Merck, uma empresa com 66.000 colaboradores, temos objetivos claros para atingir globalmente tal como a paridade em cargos de liderança. Uma realidade que em Portugal, um dos países que acompanho dentro da região, já atingiu há muito tempo e talvez por isso mesmo se destaque com certificação de Best Place to work.

Não foi, por isso, com surpresa que olhei para os resultados do estudo feito pela Moai consulting a pedido da Merck Portugal, com o apoio da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã, e que incluiu 88% das empresas alemãs com subsidiária em Portugal, tendo inquirido 22 participantes com cargos de liderança que representam cerca de 25.000 colaboradores no nosso país. E que revela que apenas 18% dos cargos de liderança dessas empresas são ocupados por mulheres.

Uma percentagem que só por si é pequena, mas que ainda se torna mais reduzida se pensarmos que a Estratégia para a Igualdade de Género da Comissão Europeia define uma representatividade mínima feminina de 40%. Ou seja, estes números são mais um sinal, a juntar a tantos outros, de que há muito a ser feito no caminho pela igualdade de género.

A estes dados juntam-se ainda outros, que refletem a diferença de perceção sobre a importância da diversidade, equidade e inclusão entre homens e mulheres, que eu considero alarmante. Enquanto 75% das mulheres olham para estes conceitos como uma prioridade, apenas 53% dos homens partilham essa visão, o que destaca a necessidade de uma mudança cultural profunda dentro das organizações, para que, de uma vez por todas, a igualdade deixe de ser uma ideia abstrata para se tornar uma realidade tangível.

Ao olhar para tudo isto, não posso deixar de pensar em quantas mulheres, mães, cuidadoras, que desempenham múltiplos papéis na sua vida pessoal e profissional, têm talento e vontade mas estão a ser subestimadas e subvalorizadas apenas e só por serem mulheres, como se a identidade de género fosse uma característica definidora de capacidades.

Há um problema sistémico que precisa de ser abordado urgentemente. E como top management de uma empresa que valoriza a diversidade, equidade e a inclusão, consigo perceber de uma forma ainda mais clara o potencial, em termos de talento e em tudo o que isso depois acarreta, por exemplo, no que diz respeito à produtividade, que está a ser desperdiçado nas empresas em Portugal. Porque os benefícios de ter uma liderança diversificada são factuais e traduzidos, através de vários estudos, em ganhos efetivos. Não há dúvidas que a diversidade de perspetivas e experiências enriquece as discussões, mas mais do que isso, não há também dúvidas que impulsiona a inovação e torna-nos mais resilientes perante os desafios que serão, seguramente, cada vez mais complexos e de difícil resolução, à medida que o mundo se torna também ele mais complexo.

Não se trata apenas de uma questão de justiça social, mas de eficácia empresarial. E apesar de todos sabermos que a mudança, sobretudo aquela que tem raízes culturais, é difícil e que não vai acontecer de um dia para o outro, também é um facto que nada muda se não trabalharmos para isso, se este tema não for levado a sério e encarado como uma prioridade. O compromisso que se exige é contínuo: de nada vale aproveitar uma ou duas efemérides para trazer o tema à ordem do dia; aquilo que precisamos é de uma ação concertada para criar mudanças significativas.

Como líder, e como mulher, que ao longo dos anos tem vindo a gerir os desafios pessoais não deixando de arriscar e abraçar desafios crescentes a nível profissional, quero continuar a dar o meu contributo para a criação de um ambiente onde todos, independentemente do seu género, cor ou ideais, possam alcançar o seu potencial. E numa altura em que a Merck celebra 90 anos de vida e trabalho em Portugal, há que celebrar as conquistas do passado, mas olhar para o futuro e para aquilo que nos pode trazer e redobrar os esforços para garantir que as próximas gerações viverão numa realidade em que a paridade de género deixa de ser tema e passa a ser comum. E só através de um compromisso coletivo e uma liderança inclusiva podemos criar um futuro onde há lugar para todos e para todas.


Artigo de Opinião de Rita Reis

Head of Communications Mid Europe

Foto Rita Reis

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