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Quando foi a última vez que as tuas peças de roupa te contaram uma história?

Pensa numa memória que te transporte para um sítio acolhedor, que só tu conheces.

Se fizeres este exercício, encontrar-te-ás com uma história, a tua história, e ela far-te-á sorrir.

Qual é a tua história?

(Patrícia Pereira, fundadora da pera Lima)

É quase cliché referir que as peças que vestimos são um reflexo do nosso estado de espírito e da nossa identidade. São um escudo e uma arma e são mecanismos que nos facilitam a identificação e pertença grupal. Mas, as peças de roupa têm também vida própria, existem antes de nos conhecerem e, tal como outras entidades maiores de amor, pensemos nos nossos pais, nos nossos filhos, na nossa chama gêmea, nos nossos animais de estimação, são as peças de roupa que nos escolhem. Sim, atraímos o que vibramos. Não há coincidências. Linhas invisíveis conectam aqueles que estão destinados a encontrar-se, independentemente do tempo, do local ou da forma através da qual o encontro se dá.

"A minha visão é muito ligada à pintura e, portanto, a todo o seu potencial plástico que as suas técnicas podem oferecer. Sou apaixonada pela impressão do pincel na tela e por isso esta estampagem é o resultado entre a repetição sistematizada do pincel e a tentativa orgânica de que esta represente algo muito real, aqui a proteia.” (© IG patati_por_ai)

“A minha visão é muito ligada à pintura e, portanto, a todo o seu potencial plástico que as suas técnicas podem oferecer. Sou apaixonada pela impressão do pincel na tela e por isso esta estampagem é o resultado entre a repetição sistematizada do pincel e a tentativa orgânica de que esta represente algo muito real, aqui a proteia.”
(© IG patati_por_ai)

E na vida própria das peças de roupa, de que falarão entre si? Quais as suas histórias de vida? O que pulsa ali que é forte o suficiente para nos acenarem e encantarem?

Vou contar-vos uma história, sobre a minha viagem a um mundo tangível, mas, que poucos realizam pois, já dizia Saint Exupéry “o que é essencial ao coração é (quase sempre) invisível aos olhos humanos”. Realmente os meus sentidos tinham sido “cativados” uns meses antes por uma marca de moda e, segundo esta narrativa (O Principezinho, de Saint Exupéry), quando alguém ou algo nos cativa, torna-se único para nós. E assim, numa manhã do verão de São Martinho, o meu Norte foi rumo a Vila do Conde.

Campanha Baobab, Pera Lima FW22  (© Pera Lima)

Campanha Baobab, Pera Lima FW22
 (© Pera Lima)

Porque assim estava combinado, esta era uma reunião de trabalho. Mas, quando se tem a sorte de se trabalhar no que se gosta, todas as reuniões de trabalho são, antes de mais, um momento de lazer e, durante essa “break de um quotidiano mais corporativo”, acontecem simbioses e não raras vezes acontecem epifanias que só mais tarde interiorizo.

Porque é que já há anos eu sentia necessidade de estar em Vila do Conde? Como tive necessidade de regressar a Portugal… O que é que está gravado no meu subconsciente que necessita ser revelado? A minha história?

Esta é uma viagem pelos sentidos dos estampados que contam histórias.

Em Vila do Conde, ou a partir de lá, por intermédio da uma artista visual, “despi-me” de (pre)conceitos e abri-me a ouvir as histórias narradas pelos estampados. Sim, um estampado têxtil conta histórias e quando estás disponível para acolher essa experiência sentes que algo mais profundo acontece no teu nível de consciência estética, sensitiva e intuitiva. No mundo consciente, let me tell you something gals: adoro roupa! E desta vez, as peças de roupa da marca Pera Lima estavam a “contar-me” acerca do significado “das suas roupagens”, ou seja, contaram-me acerca da suas histórias.

Acredito que a esta altura estejas a pensar que estou a filosofar alto. Já a um nível mesmo de divagação, right?!  Mas acompanha-me mais umas linhas pois aqui escrevo-te de arte que se veste, de vestir histórias nossas.

Pera Lima é uma marca de moda cuja visão combina várias linguagens das artes plásticas, como o desenho, a pintura, a aguarela, com a arte têxtil. E há a escrita, o conto, a narrativa.

A sua missão parte de questões simples e encadeadas: ”E se vestíssemos as nossas histórias? E se a nossa tela fosse um tecido? E se a arte pudesse ser vestida?”

Comecemos por perceber visualmente como é que isto pode acontecer pois a fundadora, Patrícia Pereira, é pintora. E mostra-nos a sua arte na rua, sob a forma de roupa, com histórias.

Coleção Mamoli - Ipomoea pes-caprae num desprendido fluido de aquarela, transposta na estampagem em vestido kimono. Desenhada na praia de Mamoli, Moçambique  (© IG patati_por_ai)

Coleção Mamoli – Ipomoea pes-caprae num desprendido fluido de aquarela, transposta na estampagem em vestido kimono.
Desenhada na praia de Mamoli, Moçambique
 (© IG patati_por_ai)

Patrícia explora diferentes linguagens plásticas como o desenho, a pintura e a aguarela, cujos resultados foram posteriormente estampados digitalmente em média e larga escala.

Tropical – mockups e fragmento de rapport – “A ideia dos meus padrões serem a minha segunda pele é algo que me fascina. E ainda mais a pintura sair de mim e flutuar...” (© IG patati_por_ai)

Tropical – mockups e fragmento de rapport – “A ideia dos meus padrões serem a minha segunda pele é algo que me fascina. E ainda mais a pintura sair de mim e flutuar…”
(© IG patati_por_ai)

A artista encara a estampagem não apenas na sua vertente puramente estética, mas, sobretudo, como um palco de histórias e matriz de identidade.

Tendo sido conceptualizada num “regresso a casa” (após 11 anos em Moçambique), Pera Lima era já um esquisso premente na cabeça de Patrícia aquando do seu regresso a Portugal, no início da pandemia. Enquanto marca, está disponível no mercado desde setembro de 2021.

Segundo a fundadora, “sempre acreditei no potencial do diálogo, no poder de comunicação da pintura; sempre considerei que a pintura deveria existir com um propósito, neste caso contar uma história.” Assim, a marca começou por apresentar três estampagens – a pereira – a vizinha – a amoreira – “memórias visuais de três histórias que resultam de um exercício de regresso à infância, uma ode à inocência, à doçura e simplicidade com que as crianças sentem e experienciam o mundo, resgatando memórias sensoriais dos lugares onde eu cresci”.

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“A pereira” é um estampado feito com recurso às técnicas tradicionais de desenho e pintura, que conta histórias de infância, uma nostalgia de certa forma imortalizada. (© IG Pera Lima)

A pereira

“Esta coleção é sobre voltar a casa. E quem volta a casa, volta para si, redescobre-se e recria-se. Existe uma paisagem na nossa memória, que nos traz o conforto de um lugar de pertença.”

As pereiras do quintal do avô de Patrícia, à volta das quais tantas vezes brincou com amigos constituem memórias felizes, uma homenagem à natureza, à casa de infância, uma homenagem ao nome de própria família Pereira.

Coleção a pereira  (© IG Pera Lima)

Coleção a pereira
 (© IG Pera Lima)

A vizinha

Esta estampagem é inspirada na geometria do azulejo. Representa uma figura feminina, em posição curiosa, à espreita. “A nossa casa é uma caixa de memórias. Abrir esta caixa, abrir a porta desta casa e entrar nela, significa não apenas reencontrar o que fomos, mas também perceber que o que fomos gerou o que somos.”

Uma homenagem à vida comunitária, à figura que é familiar, a quem recorremos pelo à vontade, pela amizade, para aquele favor de última hora. Há sempre uma vizinha à espreita pela janela, há sempre uma vizinha que testemunha a que horas afinal chegámos a casa…

Coleção a vizinha (© IG Pera Lima)

Coleção a vizinha
(© IG Pera Lima)

A amoreira

Os campos da aldeia do litoral norte, os pintassilgos, as amoreiras que no fim do verão nos deliciam com amoras que colhemos e comemos diretamente das balsas.

A vida que passa sem pressa, apenas com a curiosidade inocente das crianças, com a vontade de explorar, com o medo e com, ainda mais, adrenalina.

O fim de verão, a lembrar que ainda temos uns dias antes do regresso à escola, ao convívio com os amigos, os novos professores. A preparação para a rotina boa ou para novas aventuras.

Coleção a amoreira (© IG Pera Lima)

Coleção a amoreira
(© IG Pera Lima)

A aldeia

E há a aldeia, ou a cidade. Há a nossa terra, o nosso país, a nossa casa, a nossa pertença. Pensarmos a formação da nossa aldeia é pensarmos a nossa formação, a nossa pertença, o que veio antes, o que existe agora e como será tudo isso amanhã.

“(…) eu queria que a linha não fosse apenas uma linha e que a mancha não fosse apenas uma mancha, mas sim um esboço de uma história, uma memória, uma temática terrena, simples e humana e que a sua razão de ser pudesse ir para além da sua mera condição estética.”

Coleção a aldeia (© IG Pera Lima)

Coleção a aldeia
(© IG Pera Lima)

 A aranha, a pedra e o embondeiro

Destaque ainda para o recente estampado “a aranha, a pedra e o embondeiro” resultante de um conto de uma escritora luso-moçambicana. Pera Lima interpretou nas suas pinceladas o conto de uma jovem de 25 anos a qual sonha mudar o mundo acabando por ser a natureza a transformá-la, quando abraça pela primeira vez um embondeiro. Esta é a história de uma viagem, transformativa, ao interior feminino. A jovem mulher realiza, através desta experiência, o seu estado de comunhão com a natureza à sua volta e como todos os elementos estão interligados, uma nova vida que volta a florescer após a morte transformativa.

Coleção a aranha, a pedra e o embondeiro  (© IG Pera Lima)

Coleção a aranha, a pedra e o embondeiro
 (© IG Pera Lima)

Para simplificar, desmistificar e democratizar este tema digo-te em primeira mão que tu também o podes viver. Basta querer, basta olhar e sentir para além da razão. Deixa-te simplesmente levar, permite-te sentir!

 “Pensa num lugar onde as tuas inquietações acalmam. Onde o tempo desacelera e podes fazer uma pausa. Um lugar onde podes descansar, sonhar e ver com clareza. Um lugar onde podes voltar para ti, a tua casa, e sentires-te livre.”

Veja mais em Elsa Dionísio

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