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Varizes: uma especialista explica os cuidados a ter nesta altura particularmente crítica

Em Portugal, estima-se que a Doença Venosa Crónica (DVC) possa atingir cerca de 35% da população adulta, sendo mais frequente nas mulheres, entre os 20 e os 50 anos, devido à influência hormonal e à gravidez. A principal manifestação desta doença são as varizes.

A maior parte de nós já ouviu falar sobre varizes, mas poucos sabem do que se trata realmente. Joana de Carvalho, cirurgiã vascular especializada no tratamento de doença venosa e em flebologia estética, define-as como “veias dilatadas, tortuosas e palpáveis com mais de 3 mm de diâmetro”. Distinguem-se dos derrames, que são vasos de pequeno calibre e outro sintoma visível de DVC.

Com a chegada do verão, além das questões estéticas, quem sofre deste problema vê sintomas como a dor, sensação de peso e formigueiro, inchaço, cãibras e cansaço aumentarem. É por isso importante considerar os tratamentos existentes e seguir os cuidados recomendados. Com a ajuda da especialista Joana de Carvalho explicamos-lhe tudo o que tem de saber sobre varizes.

O que são as varizes?

Por definição, varizes são veias dilatadas, tortuosas e palpáveis com mais de 3 mm de diâmetro. Isto é, são as veias que fazem dilatações sob a pele e são evidentes a olho nu como irregularidades tumefactas nas pernas. São a principal manifestação de Doença Venosa Crónica (DVC). Esta abrange um amplo espectro clínico desde telangiectasias (vasinhos/aranhas vasculares), veias reticulares (“micro-varizes”, com menos de 3 mm de diâmetro), varizes, edema (inchaço), alterações da pele, como pigmentação (manchas acastanhadas), lipodermatosclerose e úlceras venosas (feridas decorrentes da doença que ocorrem nas pernas e são de difícil e morosa cicatrização).

Como surgem? É genético?

Existem vários fatores envolvidos no aparecimento de varizes dos membros inferiores. O  principal é, de facto, o fator genético. Quem tem familiares diretos com varizes tem, assim, um risco acrescido de vir a desenvolver a doença. Outros fatores como a obesidade, a idade avançada, o sedentarismo e o risco profissional (estar muito tempo em pé ou muito sentado) podem também concorrer para o seu desenvolvimento. O sexo feminino é também tido como um fator de risco para a ocorrência de varizes, ainda que não esteja completamente definido se tal está relacionado com outros fatores, como a contraceção hormonal,  gravidezes ou fatores ambientais.

De que forma a gravidez pode influenciar o surgimento de varizes?

A gravidez pode levar ao agravamento ou desenvolvimento de varizes por dois mecanismos distintos. Numa fase precoce da gravidez devido às alterações hormonais súbitas e exuberantes e, mais tarde, à medida que o feto cresce, devido ao peso do útero gravídico que compromete a normal drenagem dos membros inferiores por compressão das veias pélvicas que recebem a drenagem das pernas. Muitas das vezes, estas varizes gestacionais regridem de forma completa, ou parcialmente, alguns meses após o parto.

Joana de Carvalho, cirurgiã vascular especializada no tratamento de doença venosa e em flebologia estética

Joana de Carvalho, cirurgiã vascular especializada no tratamento de doença venosa e em flebologia estética

Quem tem familiares diretos com varizes tem, assim, um risco acrescido de vir a desenvolver a doença

Como as identificamos?

Como já referi, as varizes são por definição algo evidente à “vista desarmada”. Contudo, saliento que pode existir doença venosa sem varizes evidentes. Isto é, veias (como a tão falada veia safena) podem não estar a fazer o seu papel de drenagem adequadamente, causando queixas e colocando a pessoa em risco de complicações apesar de não haver varizes evidentes. Assim, as pessoas devem estar atentas a sintomas como dor, sensação de peso nas pernas, sensação de pernas cansadas e edema (inchaço). Estes sintomas ocorrem habitualmente ao fim do dia, agravando com o calor e após longos períodos na posição de sentado ou em pé. Outros sintomas comuns são cãibras nas pernas que ocorrem tipicamente durante o descanso noturno.

Quais os sintomas?

Os sintomas podem variar de acordo com a localização e a gravidade da doença. As varizes podem revestir-se de uma preocupação predominantemente estética, podendo também acompanhar-se de sintomas como dor, inchaço, sensação de peso ou cansaço. Pode ocorrer também prurido, isto é, comichão. Em casos graves e com o aumento do tempo de evolução, na ausência de tratamento podem surgir alterações da pele que se torna manchada, endurecida e/ou fragilizada, sendo predisposta à ocorrência de feridas – úlceras venosas. Estas, pela dor que provocam e pela necessidade de cuidados de penso contínuos durante um período, habitualmente alargado, impactam muito negativamente a qualidade de vida dos doentes.

Assim, as pessoas devem estar atentas a sintomas como dor, sensação de peso nas pernas, sensação de pernas cansadas e edema (inchaço).

Apenas aparecem nas pernas ou podem surgir em outras partes do corpo?

Mais frequentemente as varizes surgem nos membros inferiores e a essas referimo-nos mais habitualmente quando abordamos o tema genericamente. Mas há também varizes pélvicas, varizes rectais (hemorroides) e varizes esofágicas. Contudo, elas não estão relacionadas entre si (com exceção das varizes dos membros inferiores e das varizes pélvicas em casos específicos), nem partilham fatores de risco.

Dá para prevenir esta doença?

Não é possível prevenir de forma definitiva o aparecimento de varizes, já que o principal fator de risco é genético. Mas devemos atuar nos fatores de risco modificáveis (aqueles que dependem diretamente das nossas ações) de forma a diminuir o risco do seu aparecimento. Assim, devemos manter uma vida ativa, com prática de exercício físico e evitando longos períodos em pé ou sentado. Sabemos que um dos mecanismos importantes na drenagem venosa é o papel ativo dos músculos pelo “efeito de bomba muscular”, estando as veias principais no meio dos músculos é facilmente compreensível que o seu trabalho irá espremer as veias, ajudando a bombear o sangue. Controlar o peso é também crucial, já que a obesidade é um importante fator de risco para o aparecimento de varizes, para o seu agravamento e para o seu reaparecimento após tratamentos.

Mais frequentemente as varizes surgem nos membros inferiores e a essas referimo-nos mais habitualmente quando abordamos o tema genericamente

Que tratamentos existem?

Atualmente, existe uma oferta vasta de tratamentos para as varizes, a maioria dos quais não implica internamento e permite uma recuperação célere e confortável. Tradicionalmente, a veia safena – a principal veia responsável pelo aparecimento de varizes – era removida através de uma incisão na região da virilha e outra ao nível do tornozelo. Atualmente, os métodos procuram “fechar a veia por dentro” através de uma picada guiada por ecoDoppler em vez de a remover. Este procedimento pode ser realizado através de LASER, radiofrequência ou métodos adesivos endovenosos (vulgarmente designados por cola). Resulta, assim, claro o maior conforto e a mais rápida recuperação que tais métodos proporcionam aos doentes.

Há riscos associados, quais?

Naturalmente, todos os procedimentos apresentam riscos. Contudo, a sua ocorrência é rara e na maior parte dos casos de rápida resolução e pouca gravidade. Falamos de eventual infeção no local da picada ou ocorrência de sensação de dormência no local da veia tratada. Esta última situação tende a regredir ao longo do tempo e causar pouco impacto na qualidade de vida. Situações mais graves, como eventos tromboembólicos (tromboflebite ou embolia pulmonar) são de ocorrência extremamente rara, mas transversal a qualquer método utilizado. Para diminuir este risco, os doentes são efetivamente motivados a iniciar a sua deambulação o mais precocemente possível após a intervenção, a utilizar meia de contenção elástica durante um período variável após a cirurgia e, em casos selecionados, é administrado um fármaco que diminui o risco destas complicações no período peri-operatório.

Atualmente, existe uma oferta vasta de tratamentos para as varizes, a maioria dos quais não implica internamento e permite uma recuperação célere e confortável.

Depois do tratamento, há cuidados a manter? Quais?

No imediato, após o tratamento e salvo casos excecionais, pretende-se que a doente retome a sua atividade habitual o mais precocemente possível. O uso de meia elástica está também recomendado por um período variável de poucas semanas e que depende do método utilizado e preferência do cirurgião. Mais tarde, há que manter um estilo de vida saudável e tentar controlar aqueles fatores de risco que são modificáveis de modo a evitar a recidiva, isto é, o aparecimento de novo das varizes.

Isso quer dizer que as varizes podem voltar?

As varizes podem efetivamente voltar. Pertencem a um espectro de sinais e sintomas que se denomina Doença Venosa Crónica (DVC) e, como o nome indica, não há tratamento, nem cura definitivos. O que sucede é que veias que no momento da intervenção se comportavam de forma adequada podem desenvolver doença no futuro. Atualmente, com recurso ao ecodoppler no momento da intervenção, assegurando que todas as veias doentes são tratadas devidamente, os resultados são claramente otimizados.

É uma doença desvalorizada por quem a tem? 

Acho que cada vez mais as pessoas estão informadas e cientes de que as varizes são um problema que vai muito além da questão estética. Começa a ser de conhecimento comum que podem causar complicações, algumas das quais graves, como tromboflebites (formação de um coágulo na variz, obstruindo o seu normal fluxo e causando dor, rubor e desconforto intensos no local). O medo de ter feridas nas pernas, ou ver evoluir as varizes (como assistiram no caso de familiares mais idosos), também é algo que, felizmente, motiva a procura de tratamento precocemente.

As varizes podem efetivamente voltar.

No verão, há cuidados especiais a ter?

O Verão é uma altura particularmente crítica para quem tem varizes, uma vez que o calor provoca vasodilatação, aumentado a pressão que as varizes têm. Com o aumento da pressão, agravam todos os sintomas de doença venosa: dor, inchaço, sensação de peso e de calor.

Há algumas medidas a adotar, a principal das quais é evitar o calor excessivo e direto nas pernas, há que as refrescar frequentemente com a água do mar ou da piscina. O aquecimento excessivo da pele das pernas pode também levar ao aparecimento de novos vasinhos. Manter uma atividade física regular, aproveitando, por exemplo, o clima favorável para fazer caminhadas ao ar livre, ajuda, como já mencionei, a diminuir o edema e otimizar o mecanismo de drenagem venosa das pernas. Cuidar da pele e aproveitar para massajar as pernas ao mesmo tempo que aplica creme, uma vez que o calor e o sol também causam maior desidratação da nossa pele. Não esquecer, por isso, de manter o aporte de água adequado – recomenda-se a ingestão de cerca de 1,5 litros de água por dia, sendo que esta medida aumenta com o esforço e o calor.

Naturalmente, o uso de protetor solar não pode ser esquecido, não só nas pernas, mas nas pernas em particular se fez algum tratamento, de modo a evitar o risco de manchas.

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