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A depressão afeta mais mulheres que homens. Saiba porquê

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a depressão é um dos principais problemas de saúde no mundo desenvolvido, pelo que se estima que esta perturbação mental afeta mais de 300 milhões de pessoas a nível mundial. No entanto, é na mulher que se verifica uma maior prevalência da mesma: em Portugal, as estimativas apontam para valores de 2 a 3% para os homens versus 5 a 9% para as mulheres para as formas mais graves de depressão.

Para saber porque é que isto acontece, falámos com Ana Peixinho, Médica Psiquiatra e Coordenadora da Unidade de Psiquiatria e Psicologia no Hospital Lusíadas Lisboa.

Ana Peixinho, Médica Psiquiatra e Coordenadora da Unidade de Psiquiatria e Psicologia no Hospital Lusíadas Lisboa.

Ana Peixinho, Médica Psiquiatra e Coordenadora da Unidade de Psiquiatria e Psicologia no Hospital Lusíadas Lisboa.

Porque é que as mulheres sofrem mais depressão do que os homens?

A maior prevalência de depressão nas mulheres justifica-se por uma combinação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos e sociais.

Fatores biológicos:

A relação existente entre os eventos da vida reprodutiva da mulher e as alterações de humor são inequívocas.

As grandes diferenças de género na prevalência da depressão surgem na puberdade e mantém-se nos anos reprodutivos até ao período peri-menopausa. Este curso da doença indica que os fatores hormonais desempenham um papel fundamental nas alterações de humor do sexo feminino.

  • 20 a 40% das mulheres em idade fértil têm alterações comportamentais e de humor pré-menstruais.
  • 2 a 10% apresentam Perturbação Disfórica Pré-Menstrual, uma forma grave de Síndrome Pré-Menstrual caracterizada por alterações importantes do comportamento e humor que antecedem o aparecimento da menstruação.
  • 10 a 15% das mulheres têm depressão durante a gravidez ou no período pós-parto.
  • Verifica-se igualmente um aumento da depressão no período peri-menopausa, porém após a menopausa esta situação deixa de ocorrer.
  • As diferenças na função tiroideia, entre os dois sexos, parecem também contribuir para a diferença de género na prevalência das perturbações de humor.

Outro fator biológico, que contribui para a diferença de género na prevalência da depressão, está diretamente relacionado com as características do ritmo circadiano (sistema complexo que regula o sono e a vigília durante um período de 24 horas). As mulheres deprimidas apresentam frequentemente hipersónia (sono excessivo) quando comparadas com os homens.

As alterações específicas de género em relação à serotonina e aos efeitos do estrogénio nos neurotransmissores podem também ser responsáveis por esta diferença.

Fatores Genéticos

Cerca de 25% das depressões surgem em familiares de primeiro grau (mãe, pai e irmãos) de indivíduos com depressão. Sabe-se que existe uma maior prevalência de doença em familiares de primeiro e segundo grau do sexo feminino. No entanto, a contribuição genética do risco de depressão não é específica das mulheres. O risco de vir a desenvolver a doença é o mesmo em homens e mulheres cujos familiares têm ou tiveram depressão.

Fatores psicossociais

Os fatores psicossociais que podem contribuir para o aumento da vulnerabilidade da mulher vir a desenvolver depressão incluem o stress de múltiplas responsabilidades profissionais e familiares, o abuso físico e sexual, a discriminação sexual, a existência de uma rede de suporte deficitária, a presença de eventos de vida traumáticos e as dificuldades financeiras.

Por outro lado, indivíduos com baixa autoestima, pessimismo e menor resiliência ao stress têm maior probabilidade de vir a desenvolver depressão, no entanto, estes condicionantes não se limitam ao sexo feminino.

 Foto de Alex Green no Pexels

Foto de Alex Green no Pexels

Como é que sabemos que estamos perante uma depressão?

A depressão apresenta sintomas característicos que incluem tristeza, diminuição do interesse e do prazer nas atividades habituais, alterações do apetite e sono, agitação ou lentificação física e psíquica, fadiga ou diminuição da energia, perda da autoestima/confiança ou sentimentos de culpa, diminuição da concentração ou da capacidade de tomar decisões e ideias recorrentes de morte, de suicídio ou comportamentos suicidários.

Estes sintomas devem estar presentes durante pelo menos duas semanas, ocorrendo na maioria dos dias, causando sofrimento significativo ou tendo implicação negativa no desempenho social, ocupacional ou noutras áreas do funcionamento pessoal.

As mulheres apresentam com maior frequência determinados sintomas como:

  • Ansiedade;
  • Somatizações (manifestações físicas de sofrimento psicológico – palpitações, dor generalizada, alterações gastrointestinais, dor no peito ou dores de cabeça…);
  • Aumento de peso e apetite;
  • Hipersónia;
  • Hostilidade e irritabilidade.

Como é que podemos prevenir a depressão?

O primeiro passo para prevenir a depressão é estar atento aos primeiros sintomas e não os deixar arrastar no tempo, procurando ajuda especializada, quer seja através do médico de família, do psicólogo ou do psiquiatra.

Deve-se promover um estilo de vida saudável com particular enfoque no autocuidado, com tempo para o próprio sem culpas, tanto, por exemplo, na prática de exercício físico, como de relaxamento ou de mindfulness, promovendo sempre a interação social e o contacto com a Natureza.

Que mitos estão associados a esta doença e que precisam de ser desmistificados?

É fundamental passar a mensagem de que a depressão não acontece só aos outros e de que não é um estado de espírito ou uma debilidade de que os “fracos” e vulneráveis padecem; sendo que os mais resistentes conseguem ultrapassar os problemas estando imunes à depressão.

A depressão é uma doença, como a diabetes, a hipertensão ou a epilepsia que advém de um desequilíbrio de neurotransmissores que quando restabelecido reduz e acaba com os sintomas.

A depressão dói, os sintomas não se limitam à dor psicológica. As manifestações físicas da dor psicológica são sintomas importantes, muitas vezes desvalorizados e difíceis de abordar.

A depressão trata-se! Com medicamentos adequados, com um perfil muito seguro e sem efeitos secundários importantes, muitas vezes associados a um acompanhamento psicoterapêutico estruturado.

Quanto mais precocemente identificada e atempadamente tratada, melhores os resultados obtidos.

Para além das consequências graves que podem advir de uma depressão não tratada, viver em esforço, sem prazer, sem alegria, com alterações do sono, ansiedade e inclusive dificuldades sexuais, com diminuição da libido e do prazer, é não aproveitar o que a vida tem de melhor para nos dar!

Um passo em frente é procurar ajuda aos primeiros sinais e não deixar arrastar sintomas, pois quanto mais grave e prolongada for a depressão, mais tempo demora a remissão dos seus sintomas.

Com a pandemia os casos aumentaram? 

Segundo a investigação publicada na revista médica The Lancet (outubro 2021) os primeiros dados globais sobre o impacto da Covid-19 na saúde mental, recolhidos em 204 países e territórios indicam que, em 2020, a pandemia originou 53 milhões de situações depressivas adicionais e 76 milhões de casos de perturbações de ansiedade.

Estes valores representam um crescimento de 28% nos casos de depressão e de 26% nas situações de ansiedade, refere o estudo, adiantando ainda que os países com elevadas taxas de infeções e grandes restrições no movimento de pessoas registaram os maiores aumentos na prevalência destes quadros clínicos.

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