Como funciona o cérebro de um adolescente? Gostava de ter estratégias e ferramentas claras que a ajudassem a decifrar esta resposta? Álvaro Bilbao é neuropsicólogo e autor. Numa altura em que ainda estamos a tentar perceber o impacto que a série ‘Adolescência’, da Netflix, teve em cada um de nós e a depararmo-nos, uma vez mais, com os reais problemas das redes sociais, da adolescência e da era em que vivemos, o autor lança um novo livro, que se revela um aliado imprescindível. ‘Prepara-te para a vida – 7 chaves para orientar jovens e adolescentes’ é o título da obra. Com o autor, conversámos sobre o livro e sobre esta conturbada fase de vida…
Que desafios particulares traz a adolescência e porquê?
Gostaria de começar por dizer que 90% dos adolescentes são maravilhosos 90% do tempo. Contudo, é certo, também, que a adolescência é uma fase de mudanças profundas,tanto físicas como emocionais. Um dos maiores desafios desta fase é a busca de identidade e de autonomia, o que pode levar a que, por vezes, exista uma separação psicológica dos pais, originando, inclusive, alguns conflitos. Isto não tem de representar, necessariamente, algo mau, é apenas um sinal de que o adolescente está a passar de criança (dependente) para adulto (independente/autónomo). Contudo, é importante impor alguns limites. É, também, uma fase em que o cérebro ainda está em desenvolvimento e há, portanto, um aumento vertiginoso da carga hormonal, o que pode fazer com que os adolescentes se revelem mais impulsivos e emocionais. Além disso, a pressão social e o impacto das redes sociais podem aumentar a ansiedade e a insegurança.
Como funciona o cérebro de um adolescente?
O cérebro de um adolescente está num processo de reorganização. A amígdala, que regula as emoções, é muito ativa, enquanto a crosta pré-frontal, encarregada pelo autocontrolo e pela tomada de decisões, ainda não está completamente desenvolvida. Os adolescentes podem parecer adultos, porque têm a altura, começam a ter barba ou a usar soutien, mas o seu cérebro parece-se mais com o de uma criança de 10 anos, em muitos aspetos. Isto explica por que razão podem ter reações impulsivas e tomar decisões arriscadas. Além disso, o sistema de recompensa é especialmente sensível, o que faz com que procurem emoções intensas e validação social.
Como podem ou devem os pais manter uma boa relação com os seus filhos adolescentes, sem invadirem a sua privacidade, mas mantendo-os,de certa forma, “vigiados”?
É difícil, mas não é impossível. É importante respeitar o espaço do adolescente, o que, regra geral, representa o seu quarto; temos de bater à porta e respeitar a sua privacidade, mas temos de poder entrar, seja para limpar, seja para, simplesmente, conversar com ele. Esta “independência física” deve ser gradual. Quando um jovem de 16 anos passa a maior parte do dia no quarto é perfeitamente normal; agora, quando um jovem de 12 ou 13 anos o faz já é um problema. Em algumas situações, recomendo que os pais retirem a porta do quarto dos seus filhos, quando surgem respostas violentas ou agressões. A privacidade é algo que não pode “violentar” a convivência. É essencial mostrar interesse genuíno pelas suas vidas, mas sem forçar conversas. É fundamental criar um ambiente de confiança, onde o adolescente sente que pode falar sem ser julgado. Também se devem estabelecer normas e limites claros sobre o uso da tecnologia e a convivência em casa, mas sempre com diálogo e respeito. Algo que acho imprescindível são as refeições familiares ao fim de semana: sem telemóveis, num ambiente calmo e positivo.
Os desafios que os jovens apresentam podem vir a representar problemas?
Não necessariamente. A adolescência não é um problema em si, é, antes, um…
