[wlm_register_Passatempos]
Siga-nos
Topo

Cancro do ovário: o risco familiar oncológico e a importância da prevenção

A nível mundial estima-se que existam cerca de 238 mil novos casos de cancro do ovário, sendo a Europa o continente com a taxa de incidência mais elevada. Em Portugal existem cerca de 474 novos casos por ano.

Catarina Machado,  geneticista no Hospital CUF Tejo – Consulta Risco Familiar Oncológico, afirma que “aproximadamente 5 a 10% de todos os cancros são hereditários, ou seja são causados por alterações (mutações) em certos genes, que podem ser transmitidas na família.

Foto Catarina Machado, geneticista no Hospital CUF Tejo - Consulta Risco Familiar Oncológico

Catarina Machado, geneticista no Hospital CUF Tejo – Consulta Risco Familiar Oncológico

O cancro do ovário hereditário está sobretudo associado a mutações germinativas dos genes reparadores do DNA (BRCA1 e BRCA2). Mutações noutros genes podem também estar associadas a este tipo de cancro, como é o caso dos genes de reparação implicados na síndrome de Lynch, entre outros menos frequentes.  A verdade é que quando se confirma tratar-se de um cancro em contexto de síndrome hereditária, são consideradas medidas preventivas para os portadores destas mutações.

No Dia Mundial do Cancro, assinalado hoje, parece-nos imperativo falar sobre o risco familiar oncológico e perceber, no caso do cancro do ovário, que medidas preventivas é que existem. Para tal, falámos com a ginecologista-obstetra Ana Constâncio Martins e com a geneticista Catarina Machado.

Ana Constâncio Martins, Ginecologista-obstetra no Hospital CUF Tejo e nas clínicas CUF Miraflores e CUF Belém - CUF Oncologia

Ana Constâncio Martins, Ginecologista-obstetra no Hospital CUF Tejo e nas clínicas CUF Miraflores e CUF Belém – CUF Oncologia

O Cancro do Ovário é evitável? 

Ana Constâncio Martins: Existem alguns fatores protetores conhecidos para o cancro do ovário, nomeadamente aqueles associados a uma menor frequência de ovulações, como a gravidez e amamentação (o risco em mulheres que não amamentaram é 1.5 vezes superior quando comparado com mulheres que amamentaram por mais de 18 meses).

A utilização de pílula contraceptiva também é protetora, sendo a proteção conferida maior, quanto maior a duração de utilização. Após a sua suspensão, a redução de risco parece persistir por um período superior a 10 anos.

Em situações particulares, podem realizar-se cirurgias de redução de risco.

Tendo em conta que “5 a 10% de todos os cancros são hereditário”, o estudo genético é aconselhado a..

Catarina Machado: Atualmente está recomendado que seja oferecida a possibilidade de realização do estudo genético dos genes reparadores de DNA a todas as mulheres com carcinoma do ovário com característica histológica de tumor não-mucinoso. As mulheres em que seja identificada uma mutação patogénica, devem ser encaminhadas para consulta de genética. Além disso, quando existe história familiar sugestiva de síndrome hereditário oncológico, devem também ser referenciados para avaliação em consulta desta especialidade.

Como é feito?

Catarina Machado: Este estudo é realizado em amostra tumoral, sendo que os casos em que é identificada uma mutação patogénica, são encaminhados para consulta de genética onde é feito o despiste de situação hereditária, através de análise em amostra de sangue.

Que informações fornece e para que servem?

Catarina Machado: O estudo genético permite averiguar se existem mutações genéticas com importância para a decisão terapêutica e/ou identificar famílias em risco de síndrome de predisposição oncológica associada aos genes estudados.

O cancro do ovário associado a mutações patogénicas nos genes BRCA1 e BRCA2 tem um comportamento biológico diferente do cancro do ovário de origem esporádica, estando associado a uma maior taxa de resposta a determinadas terapêuticas, sendo um dos grandes benefícios em identificar estas mutações nos tumores de ovário. Quando se confirma tratar-se de um cancro em contexto de síndrome hereditária, existem as medidas preventivas a serem tomadas e ainda a possibilidade recurso a técnicas de procriação medicamente assistida para realização de estudo genético pré-implantação, com o objetivo de transferir para o útero um embrião sem a mutação genética.

No caso do cancro do ovário hereditário, que medidas preventivas podem ser tomadas?

Ana Constâncio Martins: A prevenção será sempre a melhor escolha, mas nem sempre é exequível. Nas situações de risco familiar para cancro do ovário, e após completar o “plano familiar”, devem ser consideradas cirurgias de redução de risco, como a remoção dos ovários e trompas.

Catarina Machado: Não se pode eliminar o risco quando identificamos uma alteração genética, mas existem medidas preventivas para a diminuição desse risco. É possível adequar a vigilância ou acionar medidas de redução de risco cirúrgicas e/ou farmacológicas: a prevenção inclui vigilância ginecológica, salpingo-ooforectomia profilática (SOP) e quimioprevenção. 

A salpingo-ooforectomia profilática (SOP)…

Catarina Machado: É a estratégia de prevenção mais eficaz, contribuindo para a redução de risco de cancro ginecológico associado a mutação BRCA entre 80 e 96%, a redução de risco de cancro da mama em cerca de 50%  e a redução da mortalidade específica e global.

Recomenda-se a SOP a partir dos 35-40 anos e após completar a descendência. Esta recomendação deve ser individualizada atendendo à idade de diagnóstico de cancro do ovário na família e/ou ao tipo de mutação. Por exemplo, a mutação BRCA2 associa-se a um menor risco de cancro do ovário e a uma idade de diagnóstico mais tardia.

Que formas globais de prevenção existem?

Ana Constancio Martins: Para além das medidas preventivas já referidas, em mulheres que sejam submetidas a cirurgia ginecológica por outros motivos, a excisão das trompas e/ou ovários (em função da idade da mulher), também pode reduzir o risco de cancro do ovário.

Que avanços têm havido ao nível dos tratamentos?

Ana Constâncio Martins: O tratamento do cancro do ovário deve ser feito por equipas multidisciplinares.

Quando a opção é cirurgia , esta deve ser realizada por equipas diferenciadas no tratamento deste tipo de tumores, uma vez que a máxima remoção possível de doença é o objetivo.

A quimioterapia tem também um papel fundamental no tratamento.

Hoje em dia, é fundamental também a identificação de determinadas mutações genéticas, determinante na escolha e utilização de novas terapêuticas-alvo, com um enorme impacto a nível da sobrevivência e qualidade de vida destas doentes.

Veja mais em Sociedade

PUB