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Dia Internacional da Criança com Cancro: “Uma das fragilidades do nosso país é a investigação”

Hoje, dia 15 de fevereiro, assinala-se o Dia Internacional da Criança com Cancro.

Em Portugal, cerca de 400 crianças e jovens são anualmente diagnosticados com cancro. As Leucemias, os Linfomas e os Tumores do Sistema Nervoso Central são os tipos mais frequentes.

Embora cerca de 80% sobrevivam, o cancro é, ainda, a primeira causa de morte não acidental na população infantojuvenil.

Com o objetivo de apoiar e proteger as crianças com cancro e seus familiares, a Fundação Rui Osório de Castro – reconhecida como Instituição Particular de Solidariedade Social e de Utilidade Pública, desde junho de 2010- concentra a sua atividade em duas grandes áreas: informar, esclarecendo os pais e as crianças sobre questões relacionadas com o cancro infantil, e promover a investigação, contribuindo assim para o avanço da medicina nesta área. À semelhança do ano passado, a fundação vai realizar o Seminário de Oncologia Pediátrica, que este ano assinala 10 anos, no dia 24 de fevereiro, na Fundação Calouste Gulbenkian.

Para assinalar o Dia Internacional da Criança com Cancro, criado pela Childhood Cancer International em 2002, e perceber a evolução, ao longo dos últimos 10 anos, na área da Oncologia Pediátrica em Portugal, a LuxWoman falou com Mariana Mena, Diretora Geral da Fundação Rui Osório de Castro.

Ao longo dos últimos 10 anos, muita coisa mudou na área da Oncologia Pediátrica em Portugal. Porém, o que tem ainda de mudar?

Uma das fragilidades do nosso país é a investigação. Comparativamente com outros países, Portugal está bastante aquém do desejável. É necessário dotar o país de mais recursos financeiros e humanos, e criar estruturas organizadas de apoio à investigação.

Para além da área da investigação, nos próximos anos, será fundamental atuar ao nível dos apoios psicossociais, as crianças e as suas famílias necessitam de mais ajudas para ultrapassarem a doença oncológica com qualidade de vida.

Mariana Mena, Diretora Geral da Fundação Rui Osório de Castro.

Mariana Mena, Diretora Geral da Fundação Rui Osório de Castro.

Existem diversos tipos de cancros. Quais são os que encontramos nas crianças?

Embora o cancro possa surgir em qualquer parte do corpo, nas crianças, a doença afeta sobretudo as células sanguíneas, as células cerebrais e as células do sistema músculo-esquelético.

Posto isso, os tumores mais comuns são…

As Leucemias, os Tumores do Sistema Nervoso Central e os Linfomas, que representaram, entre 2010 e 2019, 65% dos casos, de acordo com os últimos dados estatísticos publicados. Em idade pediátrica são também comuns, mas com menor expressão, o Neuroblastoma, o tumor de Wilms (temor renal), o Retinoblastoma (tumor do globo ocular), o Osteossarcoma (tumor ósseo) e os Sarcomas (tumores dos tecidos moles).

Em Portugal, são feitos quantos diagnósticos por ano?

Em Portugal, cerca de 400 crianças e jovens são anualmente diagnosticados com cancro, sendo que cerca de 80% sobrevive. A evolução do número de diagnósticos tem sido estável, no entanto o cancro é ainda a primeira causa de morte não acidental nesta faixa etária.

Falamos de crianças de todas as idades? Há uma faixa etária mais significativa?

De acordo com os dados estatísticos publicados em 2022 pelo registo oncológico, entre o período de 2010 e 2019, o grupo etário com maior incidência foi o de inferior a 1 ano.

A que sinais devem estar os pais atentos?

Os sinais e sintomas da doença variam em função do tipo de tumor. É importante que os pais estejam atentos às queixas das crianças (que são a pista mais importante para descobrir a doença), aos sinais a ela associados, ao período temporal desde a manifestação dos sintomas e à forma como eles afetam a vida normal da criança.

Muitos sintomas do cancro assemelham-se aos de doenças comuns na infância, motivo pelo qual se torna fundamental que os pais estejam vigilantes em relação às mudanças que surgem no corpo e no comportamento das crianças.

É a persistência destes sinais e sintomas que poderão criar a suspeita no pediatra e/ou médico de família que acompanha a criança. Este é mais um motivo para que não se recorra às urgências dos hospitais a toda a hora. Por se tratarem de sintomas banais, é importante que o médico que observa a criança a conheça. Caso contrário não identificará a existência de persistência de algum destes sintomas. Ao existir esta suspeita o médico irá encaminhar a criança para um dos 3 Centros de Referência em Portugal: IPO de Lisboa, Hospital Universitário de Coimbra e IPO do Porto / Hospital São João.

Que tratamentos existem neste momento para combater esta doença?

O tipo e a localização da doença oncológica, o tamanho do tumor, a idade e o estado de saúde, são fatores determinantes para a escolha do tipo de terapia a ser implementada, que poderá ser Quimioterapia, Radioterapia, Cirurgia e Imunoterapia.

Em função dos diferentes fatores, estas formas de tratamento podem ser associadas para responder mais eficazmente às necessidades terapêuticas de cada criança. O tipo de intervenção adotado tem de ser avaliado caso a caso, tendo sempre em consideração uma análise real dos riscos e benefícios que o tratamento irá acarretar para a criança e jovem.

O tratamento envolve uma equipa multidisciplinar englobando oncologistas pediatras, cirurgiões, radiologistas, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas e farmacêuticos. Juntos intervêm no tratamento não só ao nível da recuperação do organismo, da cura, mas também sobre a qualidade de vida e bem-estar da criança.

Há algo que possa ser feito para prevenir o cancro infantil?

Os fatores de risco ainda não são bem conhecidos. O cancro infantil é uma doença rara e, dentro dessa doença, existe uma miríade de tipos de cancro, o que torna a investigação muito difícil. A colaboração internacional em estudos é, por isso, muito importante para aumentar o número de casos disponíveis para estudo. Muita investigação ainda terá de existir para que realmente se consiga encontrar uma verdadeira resposta a esta pergunta.

No entanto, já foi possível identificar alguns fatores de risco associados, tais como a exposição de alguns vírus e a exposição a radiações. No entanto, a maioria das crianças expostas a estes fatores não desenvolvem um cancro, pelo que não devem ser causa para grande preocupação. Importa também saber que o cancro hereditário é muito raro.

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Cartaz do 10.º Seminário de Oncologia Pediátrica

A Fundação Rui Osório de Castro está a organizar mais um Seminário de Oncologia Pediátrica. Que temas estarão em destaque?

Esta pergunta, Qual foi a evolução do cancro infantil nos últimos 10 anos?”, é o mote para o 10.º Seminário de Oncologia Pediátrica, que a Fundação Rui Osório de Castro está a organizar e que há 10 anos junta pais, familiares, amigos e profissionais de saúde num dia inteiramente dedicado à oncologia pediátrica. Dia 24 de fevereiro, os quatro diretores de serviços dos centros de referência irão fazer uma breve reflexão sobre o que evoluiu nos últimos 10 anos. Neste encontro serão feitas reflexões sobre: os progressos ao nível dos tratamentos e consequente aumento da taxa de sobrevivência; o aumento do trabalho em rede entre centros oncológicos pediátricos que impacta positivamente os doentes nomeadamente ao nível de equidade; o desgaste dos profissionais de saúde, entre outras.

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