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Saúde Mental: Um Bem Comum

Um artigo de Patrícia Câmara, Psicóloga Psicanalista e presidente da Sociedade Portuguesa de Psicossomática, para ler na edição de novembro, já nas bancas, da Revista LuxWoman

O Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado recentemente, é mais do que uma data no calendário: é uma inscrição no tempo, para lembrar que cuidar da mente é cuidar da vida; e que só cuida, verdadeiramente, da vida quem cuida, também, das relações que estabelece.

Cada gesto que fazemos traz consigo aquilo que se passa dentro e fora de nós e tem impacto direto no nosso corpo e no corpo dos outros. Durante muito tempo, reduzimos a ideia de saúde apenas ao corpo físico individual, esquecendo que a mente, as emoções e os vínculos são, igualmente, determinantes. Na realidade, não é possível falar de saúde sem falar de saúde mental, porque corpo e mente são inseparáveis: coexistem e vivem juntos tudo aquilo que nos acontece. Nem é possível falar em saúde, sem falar na atmosfera em que se vive.

Quando falamos de saúde mental, não falamos apenas da ausência de doenças, mas da capacidade de lidar com as incertezas da vida, de reconhecer a vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, de encontrar, no outro, apoio, cooperação e sentido. É, também, falar de confiança, de esperança, de criatividade e de entusiasmo; recursos que nos tornam mais vivos e que não existem isoladamente, nascendo na relação com os outros. Tão importante quanto tratar uma ferida no corpo é cuidar da dor na alma e reconhecê-la como sinal e sintoma de um mal-estar que precisa de ser compreendido. Durante muito tempo, o sofrimento psíquico foi visto como sinal de fraqueza, algo que se devia suportar em silêncio. Mas expressar a dor ou a angústia não é fraqueza: é ser-se humano, é ser-se portador de humanidade. A coragem não está em esconder o medo, mas em atravessá-lo acompanhado. E o entusiasmo, a curiosidade e o desejo de conhecer, mesmo em tempos difíceis, são a prova de que a vida insiste em continuar. A saúde mental não depende apenas daquilo que se passa dentro de nós. O mundo que habitamos também nos atravessa profundamente.

Vivemos, hoje, um momento global marcado por violência, crueldade e falta de esperança. As notícias, os conflitos, as desigualdades sociais e os discursos de ódio compõem uma atmosfera densa, que, inevitavelmente, nos afeta. Nós somos, também, o espaço que habitamos. Se esse espaço está cheio de dor, agressividade e ausência de empatia, é natural que também as nossas dores internas se tornem maiores e mais difíceis de suportar. No entanto, o contrário também é verdade: quando somos de cuidado, de confiança e de entusiasmo partilhado, a vida torna-se mais leve e possível. Não surpreende, por isso, o alerta recente da Organização Mundial da Saúde para o aumento das perturbações mentais. O ambiente de incerteza e de tensão que atravessamos tem impacto direto na nossa capacidade de resposta. Cada um de nós tem fragilidades singulares, mas estas podem ser amplificadas ou suavizadas pelo contexto em que vivemos. A etiologia multifatorial dos doentes mentais inclui, inevitavelmente, a qualidade das…

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